terça-feira, 14 de julho de 2020

BOLSONARO NÃO É FASCISTA, LULA NÃO É CULPADO

Por Wendell Setubal


NÃO, o governo Bolsonaro não é fascista. Se fosse, este texto não sairia publicamente e nossas reuniões teriam de ser clandestinas.
BOLSONARO é fascista? Acho que não. É de extrema-direita. Todo fascista é de extrema-direita, nem todo mundo que é de extrema-direita é fascista.
JÁ se vê que se trata de um conceito complexo. A ingenuidade dos que enxergam fascismo em tudo, hoje, é uma continuidade de como ele foi visto pela esquerda, quando Mussolini assumiu o poder na Itália. A hegemonia de Stalin e seu reducionismo economicista resumiram que era um tipo de governo com o predomínio do capital financeiro. Pior, para Stalin, eram os sociais-democratas.
OS liberais também estudaram o fascismo, mas os aspectos que levantam dizem respeito a questões morais, principalmente os historiadores Jason Stanley e Federico Finchelstein, considerados no meio acadêmico os de maior acúmulo sobre o tema, professores em universidades norte-americanas. Bolsonaro se enquadra na maioria das características que eles apontam, o que poderia levar a crer que é um fascista de carteirinha. Vamos a elas.
O anti-intelectualismo, a fabricação de um inimigo (a esquerda), a estética da violência (o culto às armas dos Bolsonaro), o passado visto de forma mística (idealização que Bolsonaro faz da época da ditadura militar), uso tático da religião (aqui, o neopentecostalismo), a ansiedade sexual (Golden Shower, homofobia, armas, que são símbolos fálicos), ataque à verdade e construção de uma realidade paralela (Fake News e a pós-verdade, que é subestimar os fatos objetivos num texto, ressaltando o lado emocional, as crenças pessoais). Discordo de duas características pertencerem apenas ao fascismo: repúdio à igualdade, por exemplo, é de TODA a direita. Outro ponto seria a denúncia da degeneração moral. Este sempre foi o cavalo de batalha dos conservadores, não é “privilégio” dos fascistas.
O que falta nessa relação?
1. Extermínio físico da oposição, principalmente a esquerda. Apesar das bravatas e ameaças, por enquanto nada.
2. Base política de massa. Isso ele tem, além das PMs estaduais e as milícias.
3. Nacionalismo. Mussolini obteve crescimento da economia, que redundou na criação da Fiat, fabricante de automóveis. Bolsonaro é servil a Trump e mantém Guedes, representante do capital financeiro internacionalizado. Onde o seu nacionalismo?
4. Estado. O Estado fascista é um Superestado. A Juventude Fascista é ligada ao Estado, tal como os sindicatos. Aqui, Bolsonaro defende o Estado mínimo. Estado mínimo fascista? Ou um ou outro.
É possível que essa polêmica desapareça caso se confirmem os rumores de um Acordão entre STF, Congresso e Rede Globo (que quer perdoar o PT, por ter se provado partido da ordem) com os militares que, de sua parte, enquadrariam Bolsonaro.
QUANTO à esquerda socialista, que se comporte, fique em casa fazendo lives e cuide de eleições. E a luta dos trabalhadores no segundo semestre, vai esperar as eleições?
O vermelho vai virar amarelo?
COMO, esqueci do Lula? Eu disse que não era culpado. Afinal, ele se corrompeu ou não? Não sei. Quando afirmo que Lula não é culpado é da eleição de Bolsonaro. Suas lambanças influenciaram pouco.
É mundial a ascensão da extrema-direita e teria de chegar ao Brasil. Quero Bolsonaro morto não biologicamente, mas politicamente. É nosso sonho e, como diria Paulo Coelho, sonhos dão trabalho. À luta.

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Wendell Setubal é revisor de textos e militante do PSOL São Gonçalo

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