sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Um ano do governo Nanci: omissão, nepotismo e ausência de perspectiva

Por Prof. Josemar Carvalho *


Prefeito José Luiz Nanci
Passado um ano de posse do Prefeito José Luiz Nanci é necessário fazer um balanço do governo municipal. Faremos uma análise lúcida e responsável, mas não eximiremos de criticas, que ao nosso ver são saudáveis para o bom o debate democrático de ideias.

Começaremos pela sua eleição e o contexto eleitoral que o elegeu. Um candidato apático que foi eleito sem nada propor. Na sequência, analisaremos a forma como foi montado o secretariado municipal. Na terceira parte do texto, avaliaremos as primeiras medidas do governo. Na parte “A Nancilândia: o nepotismo como prática de governo”, faremos uma critica a prática pouco republicana que emprega parentes na Prefeitura. Na penúltima parte, analisaremos a subveniência do governo aos empresários de ônibus da cidade; e por último analisaremos, de forma breve, o funcionamento dos serviços públicos durante o governo Nanci.

Nosso texto não tem intenção de ser conclusivo, traz reflexões para evolução de uma política saudável na sociedade gonçalense. Diferente do governo municipal, estamos abertos a críticas e ao debate. Queremos avaliar o governo Nanci no seu conjunto.

Aqui não terão criticas pessoais, faremos reflexões politicas no intuito de ajudar a refletir a nossa cidade.

O cenário eleitoral de 2016: um candidato apático


A conjuntura das eleições de 2016 é marcado por elementos contraditórios da dinâmica política brasileira. A crise econômica começava a dar sinais mais fortes. O Impechment da Presidente Dilma dividia o país ao meio e acirrava o contexto cotidiano político. O desgaste de Neilton Mulim, atualmente preso, dispersava a eleição em várias candidaturas.

O Brasil buscava um caminho. A negação aos políticos da ordem era palavra quase que unânime no cotidiano popular. Renovar era a saída.

A sociedade ainda não enxergava o pacote de maldades que estava por vir. O debate da corrupção sobreponha o da crise econômica. A Lava Jato ainda era bebê que tinha que correr para não morrer no nascedouro.

Nanci foi base do governo Cabral-Pezão,
Nesta foto em dobrada eleitoral com Marco Antônio Cabral
Por lado, São Gonçalo vivia uma das eleições mais ricas em conteúdo e variedade política.  A composição inicial das candidaturas começou em 2015. Candidatos a prefeito de todos os gostos e estilos.

Neste momento, o Deputado Estadual José Luiz Nanci se colocou inicialmente como base de sustentação do governo Pezão na ALERJ. Votou na trágica indicação de Domingos Brazão para Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ). Chegou a ser Secretário de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida durante os primeiros meses do governo. O alinhamento com a cúpula estadual do PMDB sempre foi visível. Inclusive durante o governo Cabral foi contra a CPI dos Transportes em 2013.

A Reforma Política produzida por Eduardo Cunha inviabilizaram o debate mais concreta na nossa cidade. Regras como de clausula de barreira, impediram aos prefeitáveis do PSOL, do Rede e do PSTU de irem aos debates organizados do G1. A redução do Tempo do Horário Eleitoral e da própria eleição desestimulou ao debate político e propositivo nas eleições. Transformando a eleição apenas no palco midiático, onde a estrutura financeira é determinante ainda mais, um fenômeno que autores chamam de “americanização das eleições”.

Nem Nanci e nem Dejorge foram aos debates organizados pelos movimentos sociais, da qual tive a honra de participar como prefeitável da chapa PSOL-PCB. Porém os dois foram para o segundo turno como consequência das características midiáticas e financeiras que argumentamos no parágrafo anterior.

Se o Brasil fervia, o 2º turno de São Gonçalo foi uma eleição fria, com dois candidatos que mal sabiam se expressar. Os debates não foram sobre os grandes problemas da cidade, mas sim sobre um conjunto de acusações entre os dois pretendentes.

Ao final, Nanci venceu ... sem nada a apresentar!

Da composição do secretariado a posse: a continuação do governo Mulim


Como vimos no ponto anterior, o governo Nanci foi eleito sem propor nada, porque as regras eleitorais da Reforma de Cunha desestimularam o debate. A consigna “Bora Mudar” já foi desmentida no 2º turno, quando parte direta do governo de Neilton Mulim, apoiou a eleição do Médico.

A composição do Secretariado também revelou a face falsa desta mudança: quatro secretários do governo anterior. Sem enumerar os cargos comissionados de segundo e terceiro escalão, bem como o loteamento da Prefeitura.

Na nossa opinião, a maior aberração fica na gestão da saúde municipal, onde o mesmo secretário do governo anterior ocupa uma função estratégica para a cidade. Ora se a mudança era o discurso central da campanha de Nanci, e ele sendo médico, o mínimo que deveria acontecer era a “mudança” começar no setor central que ele profissionalmente domina. Trocar o secretário era o mínimo. Sinalizaria uma mudança de postura. Pelo contrário, manteve a mesmo nome, sem nenhuma meta ou planejamento visando inovar a saúde pública municipal. Em outras palavras continuação do modelo de gestão de Mulim.

Não concordamos com os acordos espúrios e de favorecimento individual. Defendemos abertamente nas eleições de 2016, que a nomeação de secretários municipais deve ocorrer após uma consulta junto a população e usuários do setor. Discordamos do método da barganha política, que só serve para nomear figuras despreparadas e autoritárias para postos chaves de comando.

Estes atos já revelaram que o governo Nanci, antes mesmo de tomar posse, era “mais do mesmo”.

Os primeiros passos do governo em direção dos empresários e contra os servidores e a população


Com poucos dias de governo, a gestão declarou “Estado de Calamidade Pública” na cidade. Medida correta, que para ser consequente, deveria ter como completo uma auditoria nas contas da gestão anterior. Declarou-se uma grande divida no valor astronômico de R$ 600 milhões (segundo o próprio governo), que nunca pode ser mensurada oficialmente. Uma auditoria nas contas de Neilton Mulim, seria uma medida de transparência que preservaria o novo governo.

Ainda nos primeiros dias, o governo Nanci manteve o aumento de aproximadamente 12% nas passagens municipais. Um gesto diretamente voltado para os empresários de ônibus. Enquanto isso o governo anunciava um parcelamento em 8 vezes do salário de Dezembro dos servidores municipais. A carona na crise econômica nacional virou justificativa para ações impopulares na cidade.

Na contramão do discurso, o governo ampliava maquina pública. Nenhuma redução efetiva de cargos comissionados, nenhuma redução dos salários dos secretários e subsecretários para ajustar a máquina pública para crise.

Lisura e transparência pública nenhuma, por lado, a “parentada” começava a participar do governo. Questão que abordaremos no próximo ponto.


A Nancilândia: o nepotismo como prática de governo


A nomeação de parentes num governo/espaço público é uma das práticas mais vergonhosas que a contemporaneidade desvendeu frente aos preceitos medievais. Vivemos no século XXI, onde a transparência é feita via ferramentas eletrônicas. A sociedade exige uma nítida separação entre espaço individual e coletivo, entre o público e o privado. Qualquer prática social arcaica que se aproprie do bem comum de maneira privada é contrassenso.

A corrupção que assola nosso país tem nessas relações promiscuas seu pilar. O desrespeito com o dever público aumenta quando ocorre a nomeação de um parente sem nenhum conteúdo ou preceito técnico. A centralidade de poder e de decisão dada sua esposa na gestão da Prefeitura é no mínimo imoral. Trazer familiares para salários superiores a R$ 30 mil reais é um escândalo, quando o discurso é de contenção de gastos. Enquanto isso, servidores públicos de carreira sofrem com o congelamento de seus salários e perda de gratificações.

Não podemos aceitar este tipo de prática social. A gestão da Prefeitura é política e não familiar. Não pode pertencer a uma família, pertence a sociedade que elegeu o Prefeito e não aos seus parentes. Não é um negócio privado. Se a esposa do Prefeito ou qualquer outro parente compõe o governo, as características éticas de transparência e gestão se desfazem. Um governo não é uma propriedade particular para ser administrado de forma privativa por cima formais da democracia.

Exonerar todos as pessoas com grau de parentescos e similares é fundamental para o respeito republicano de funcionamento da máquina pública.

 O governo dos empresários de ônibus

O aumento das passagens como uma das primeiras medidas do governo revela para quem o prefeito José Luiz Nanci governa. Como afirmamos anteriormente, aumentou as passagens em 2017, enquanto a população e servidores sofriam arrocho salarial.

Outra medida do governo, tão vergonhosa tanto quanto o aumento de passagem, foi a Prefeitura fazer a defesa do interesse dos empresários de ônibus na ADIN (Ação Direta de Inconstitucionalidade) ganha pelo PSOL, em abril de 2017, contra a exclusividade do Consórcio São Gonçalo de Transporte.

O Sistema de Transporte Urbano de São Gonçalo é centrado no ônibus, através de uma prática de cartel. A lei 425/2012, ainda no governo de Aparecida Panisset colocou de forma equivocada o transporte alternativo na ilegalidade. Chefes de família perderam seu direito ao trabalho e se endividaram.

Não cabia a defesa dos empresários que foi feita pela Prefeitura. Não era necessário legalmente, visto que uma ADIN visa corrigir uma regulamentação equivocada (no caso a Lei 425/2012 que instituiu o Consórcio São Gonçalo de Transportes). Numa ADIN não há reú como nos processos comuns. A própria Prefeitura poderia impetrar a ADIN, visando corrigir uma inconstitucionalidade. Tanto que a Procuradoria e a Câmara Municipal da gestão anterior, chegaram a emitir parecer favorável a ADIN impetrada pelo PSOL. Porém na contramão da decisão da justiça e do anseio da população, o governo do Sr. José Luiz Nanci recorreu a favor dos empresários. Uma vergonha que só revela a submissão aos empresários de ônibus.
Enquanto a prefeitura caminha com empresários de ônibus,
nós defendemos a população
Em 10 de abril, juntos com os trabalhadores
 do Transporte Alternativo

Sempre defendemos o transporte alternativo e a fiscalização sobre as empresas de ônibus que não respeitam o direito da população. Em São Gonçalo, o ônibus noturno (sereno) não é respeitado. O “ônibus de uma porta” tira o direito do portador de deficiência, dos idosos e dos estudantes. A irregularidade do horário tira a qualidade do nosso direito.

Diferente do Prefeito, que sempre foi omisso em questões de mobilidade urbana, defendemos a possibilidade de novos modais na nossa cidade. Estivemos na luta pela Linha 3 (pauta que o Prefeito nunca levantou quando era deputado); apoiamos as lutas pelas Barcas em nossa cidade; e temos orgulho de defender o transporte alternativo.


Aumento abusivos das taxas públicas e a péssima qualidade dos serviços!

O governo Nanci realiza a mesma política que era feito pelos reis autoritários da Idade Média: aumentar de forma abusiva os impostos, sem nenhuma contrapartida para população.
Faremos um balanço dos principais serviços públicos da cidade:

1.       Iluminação pública – Cobrou a taxa de Contribuição da Iluminação Pública, sem trocar uma lâmpada durante o ano. Para piorar em Setembro, o governo tentou aumentar a taxa, fato que revertido em Dezembro, pela forte negativa da opinião pública;

2.       Lixo – A cidade está mergulhada no abandono. O lixo é visível pelas ruas. Nenhuma medida formal é tomada pela prefeitura. Mas seguindo a lógica de arrocho sobre a população o governo Nanci aumentou em 163% a taxa pública de coleta de lixo;

3.       Aumento abusivo do IPTU – Não precisamos nem desenvolver muito, pois a população já está recebendo os carnês e percebendo o aumento abusivo que chega a 500%. Uma vergonha!

4.       Postos de Saúde abandonados – Falta das condições básicas nos Postos de Saúde é uma realidade da qual o “Médico-Prefeito” deveria ter vergonha. O sistema de saúde vai de mal a pior. O loteamento político de cargos na saúde visando ganhar apoio na Câmara é uma vergonha. Por outro lado, os servidores efetivos sofrem ainda mais no governo Nanci pelo achatamento dos salários e pelas péssimas condições de trabalho. Não é nenhum contrassenso lembrar que os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e Agentes de Combates de Endemias (ACE) continuam sem regulamentação das suas funções e sem sua incorporação ao Regime Jurídico Único (RJU). Como sempre afirmamos não melhora no serviço, sem melhorar as condições laborais, salariais e motivacionais daqueles que atuam no setor;

5.       Educação – Entendemos que a educação é um pilar central para desenvolvimento social, infelizmente o governo Nanci pensa o contrário. Nenhuma escola foi construída e apresentada para construção neste período. Assim como os governos anteriores, a educação foi entendida como despesa, os seus profissionais (professores e funcionários administrativos) continuam amargando o arrocho e perdas salariais.

Como podemos observar o governo Nanci, busca incessantemente aumentar a receita tributária municipal através de arrocho sobre a população.

Conclusão


Como podemos observar gestão do Dr. José Luís Nanci não perspectiva política. Se elegeu dizendo nada, iniciou o governo sem nada propor e agora resolveu governar contra a população.

A omissão frente os problemas centrais da cidade é uma vergonha. O lixo continua crescendo em nossa cidade. Ruas de diversos bairros estão ficando cada vez mais escuros. Obras para urbanizar as ruas e sanear os bairros são totalmente inexistentes. Os servidores municipais amargam perdas salariais e até agora tiveram 0% de reajuste, com perdas das suas gratificações. A educação e a saúde continuam a não ser prioridades. É um governo sem horizonte estratégico.

O aumento abusivo de taxas, revelam uma visão tecno-burguesa da gestão pública. Não se preocupam com as pessoas, com os menos desfavorecidos, com aqueles que ganham salários baixos. Para piorar, são benevolentes com os empresários de ônibus, quando aumentam a passagem e não o fiscalizam. Reproduzem na prática, uma lógica bem covarde: “Tudo para os ricos e nada para os pobres”.

A exoneração dos parentes do Dr. José Luís Nanci seria um bom começo para o governo, reaver a sua credibilidade junto a população. Mas só isso não basta, é preciso mudar a lógica tecnocrática burguesa que desprivilegia os servidores e a maioria da população. É preciso romper com o Consórcio São Gonçalo de Transportes e não aceitar os desmandos dos empresários de ônibus. É preciso investir profissionalmente e valorizar os servidores públicos municipais, em especial os de saúde e de educação. É preciso fazer com que os serviços públicos funcionem com qualidade e parar com a política fiscal antipopular que aumenta das taxas e impostos.

São Gonçalo é 16ª cidade mais populoso do Brasil, tem mais de um milhão de habitantes. Não pode ser tratada como quintal domiciliar, “brinquedinho” ou objeto de estimação de uma família. É preciso pensar grande, ser altivo, ter personalidade social e respeitar as pessoas.

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Josemar Carvalho, 42 anos, 1º Suplente de Deputado Estadual do PSOL-RJ, professor universitário e da rede pública de ensino. Presidente do Diretório Municipal do PSOL de São Gonçalo- RJ. Coordenador e Educador Popular da Rede Emancipa.



quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

183 anos da Revolta dos Malês

A Revolta do Malês foi um levante de escravos em Salvador, capital da Bahia, que aconteceu na noite de 24 para 25 de janeiro de 1835.
Organizado por negros africanos recém chegados ao Brasil, a Revolta dos Malês foi um dos maiores movimentos de resistência a Escravidão e a intolerância religiosa no período imperial.

Diferente da historiografia oficial, a luta do negro no Brasil é marcada por várias formas de luta. Os quilombos, os levantes, as "guerras de mato" foram processos legitimos de autodefesa e organização de luta pela liberdade. Reivindicamos uma releitura da história de nosso país onde coloque o papel de centralidade do oprimido na construção social.

Reafirmar a memória da Revolta dos Malês é manter viva a nossa luta contra o racismo ainda presente em nossa sociedade.

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Josemar Carvalho, 42 anos, 1º Suplente de Deputado Estadual do PSOL-RJ, professor universitário e da rede pública de ensino. Presidente do Diretório Municipal do PSOL de São Gonçalo- RJ. Coordenador e Educador Popular da Rede Emancipa.

O JULGAMENTO DE LULA - Por Chico Alencar

Chico Alencar

1) Justiça desigual no tratamento é injusta: a apreciação do caso Lula pelo TRF "furou a fila" de 7 outros recursos lá apresentados antes do dele - uma celeridade com clara parcialidade;

2) Justiça seletiva não faz justiça: Temer, Alckmin, Aécio, Renan, Jucá e vários outros, também investigados, continuam impávidos (e hipócritas) em funções públicas, pois a apuração de suas falcatruas segue em passos de cágado (em ritmo de "estancamento da sangria" da Lava-Jato); 

3) Justiça justa implica em equilíbrio na dosimetria: o caso do apartamento do Guarujá, de resto sem certidão de compra (e "o que não está nos autos não está no mundo"), não tem nexo direto com as reprováveis negociatas na Petrobras, tanto que Moro, na pesada condenação de quase uma década de prisão, menciona "ato de ofício indeterminado" (?!) ao se referir às supostas interferências de Lula na estatal para favorecer a OAS;

4) Julgamento de três magistrados não veda demandas em instâncias mais amplas nem congela a dinâmica da política: qualquer que seja a decisão da turma da 4a Região, caberão recursos e Lula, segundo seu partido, continuará pré-candidato à presidência da República.

O PSOL defende o direito à essa candidatura, sem abrir mão de sua visão crítica sobre os descaminhos da era Lula/Dilma. Teremos candidatura própria à presidência, com nosso projeto para o Brasil. Dialogaremos com todos os que resistem aos retrocessos e aos ataques a direitos duramente conquistados. Reiteramos nosso compromisso com a ética pública, contra a promiscuidade público-privada, em defesa dos interesses das maiorias.

Chico Alencar é professor de História (UFRJ), escritor e deputado federal (PSOL/RJ).