domingo, 11 de maio de 2014

Copa pra quem?

por Jorge Santana

Em 2007, o Brasil foi o único país a entrar na disputa para sediar a Copa do Mundo de 2014 e, como não poderia ser diferente, saiu vitorioso. O ex-presidente Lula sorriu como uma criança. O sentimento pertinente era de que, agora, o Brasil, país ainda emergente, tomaria impulso no evento e, finalmente, se consolidaria como uma das principais potências mundiais. O país do futebol teria a chance de mostrar ao mundo como seria possível fazer a maior Copa do Mundo de todos os tempos. A conjuntura era ótima, a economia em ritmo crescente, a inflação baixa e um aumento significativo de postos de trabalho. Havia um forte sentimento de “ninguém segura esse país”. Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, bradava aos quatro cantos que não haveria gasto público, uma copa 100% bancada pelas empresas privadas. 

Mas, nos três anos anteriores à Copa, o sucesso do empreendimento não se refletiu no tamanho do entusiasmo inicial. A perspectiva desceu pelo ralo e o sentimento onírico de que somente o país do futebol poderia fazer a melhor Copa do Mundo de todos os tempos, se perdeu na mesma grandeza proporcional à sua expectativa. A desaprovação, tanto nacional quanto internacional, tornou-se incomensurável.

Foram inúmeras as situações que fomentaram o processo de desaprovação do país. Dentre elas, as sucessivas denúncias de corrupção impetradas ao ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que foi obrigado a renunciar ao seu cargo e praticamente fugiu para os Estados Unidos, no Estado da Flórida; os aeroportos, que foram privatizados há menos de seis meses da Copa do Mundo, são recordistas em reclamações dos clientes e as concessionárias já declararam não ser mais possível fazer grandes modificações em tão curto espaço de tempo. No máximo alguns “puxadinhos”; das 56 obras de mobilidade urbana anunciadas, que serviriam de grande legado para população, restaram somente 39, das quais muitas não serão concluídas a tempo.

Já a construção dos estádios, merece um parágrafo especial. Em contradição total às declarações iniciais do ex-presidente da CBF, foram investidos milhões em verbas públicas. E o que é pior, investimentos realizados em construções particulares como no Beira Rio, na Arena da Baixada e no Itaquerão. Para aumentar ainda mais a revolta da população, os grandes estádios públicos, a exemplo do Maracanã, o Mané Garrinha, a Arena Pernambuco(Arena Itaipava) e o Fonte Nova, foram privatizados após o Estado ter investido milhões em construção e reforma. Apesar dos gastos homéricos, das doze sedes da Copa do Mundo, apenas nove estão prontas para sediar os jogos e, há cem dias do início do torneio, as obras que deveriam seguir em ritmo acelerado estão em ritmo de “correria”. Especialistas denunciam: “Não estão esperando o cimento secar”. Muitos desses atrasos devem-se a greves promovidas pelos próprios funcionários, que exigiam maiores salários e melhores condições de trabalho. Essa última exigência está comprovada pelos noticiários nacionais: somam-se sete operários mortos até agora na construção dos estádios (evidência de que a segurança é prioridade zero ao protagonista da construção).

Há ainda uma importante crítica: a expulsão direta e indireta das populações de baixa renda promovida por esse grande evento. Direta devido aos  preços altíssimos dos  ingressos cobrados pelas concessionárias que administram as novas Arenas e indiretamente pelo governo que promoveu a remoção de 10 mil famílias em nome do megaevento e do desenvolvimento.

As palavras de ordem, durante as jornadas de junho de 2013, questionavam a Fifa, a Copa do Mundo, os gastos exorbitante e os péssimos serviços públicos. A Copa não é algoz da ineficiência do Estado brasileiro, mas desnudou definitivamente  os grandes problemas que assolam a nação há décadas.  Os indícios são claros de que esse grande investimento favorece os empresários, as empreiteiras e as imobiliárias em detrimento da população.  Por isso a perguntar é clara e direta. Copa pra quem?


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Jorge Santana, 26 anos, Professor de História, Mestrando em Ciências Sociais.

* Texto publicado originalmente no jornal do PSOL São Gonçalo Nº 2 - Maio de 2014

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