por Jorge Santana
Em
2007, o Brasil foi o único país a entrar na disputa para sediar a Copa do Mundo
de 2014 e, como não poderia ser diferente, saiu vitorioso. O ex-presidente Lula
sorriu como uma criança. O sentimento pertinente era de que, agora, o Brasil, país
ainda emergente, tomaria impulso no evento e, finalmente, se consolidaria como
uma das principais potências mundiais. O país do futebol teria a chance de
mostrar ao mundo como seria possível fazer a maior Copa do Mundo de todos os
tempos. A conjuntura era ótima, a economia em ritmo crescente, a inflação baixa
e um aumento significativo de postos de trabalho. Havia um forte sentimento de “ninguém
segura esse país”. Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, bradava aos
quatro cantos que não haveria gasto público, uma copa 100% bancada pelas
empresas privadas.
Mas,
nos três anos anteriores à Copa, o sucesso do empreendimento não se refletiu no
tamanho do entusiasmo inicial. A perspectiva desceu pelo ralo e o sentimento
onírico de que somente o país do futebol poderia fazer a melhor Copa do Mundo
de todos os tempos, se perdeu na mesma grandeza proporcional à sua expectativa.
A desaprovação, tanto nacional quanto internacional, tornou-se incomensurável.
Foram
inúmeras as situações que fomentaram o processo de desaprovação do país. Dentre
elas, as sucessivas denúncias de corrupção impetradas ao ex-presidente da CBF,
Ricardo Teixeira, que foi obrigado a renunciar ao seu cargo e praticamente
fugiu para os Estados Unidos, no Estado da Flórida; os aeroportos, que foram
privatizados há menos de seis meses da Copa do Mundo, são recordistas em
reclamações dos clientes e as concessionárias já declararam não ser mais
possível fazer grandes modificações em tão curto espaço de tempo. No máximo
alguns “puxadinhos”; das 56 obras de mobilidade urbana anunciadas, que
serviriam de grande legado para população, restaram somente 39, das quais
muitas não serão concluídas a tempo.
Já
a construção dos estádios, merece um parágrafo especial. Em contradição total às
declarações iniciais do ex-presidente da CBF, foram investidos milhões em verbas
públicas. E o que é pior, investimentos realizados em construções particulares
como no Beira Rio, na Arena da Baixada e no Itaquerão. Para aumentar ainda mais
a revolta da população, os grandes estádios públicos, a exemplo do Maracanã, o
Mané Garrinha, a Arena Pernambuco(Arena Itaipava) e o Fonte Nova, foram
privatizados após o Estado ter investido milhões em construção e reforma.
Apesar dos gastos homéricos, das doze sedes da Copa do Mundo, apenas nove estão
prontas para sediar os jogos e, há cem dias do início do torneio, as obras que
deveriam seguir em ritmo acelerado estão em ritmo de “correria”. Especialistas
denunciam: “Não estão esperando o cimento secar”. Muitos desses atrasos
devem-se a greves promovidas pelos próprios funcionários, que exigiam maiores
salários e melhores condições de trabalho. Essa última exigência está comprovada
pelos noticiários nacionais: somam-se sete operários mortos até agora na
construção dos estádios (evidência de que a segurança é prioridade zero ao
protagonista da construção).
Há
ainda uma importante crítica: a expulsão direta e indireta das populações de
baixa renda promovida por esse grande evento. Direta devido aos preços altíssimos dos ingressos cobrados pelas concessionárias que
administram as novas Arenas e indiretamente pelo governo que promoveu a remoção
de 10 mil famílias em nome do megaevento e do desenvolvimento.
As
palavras de ordem, durante as jornadas de junho de 2013, questionavam a Fifa, a
Copa do Mundo, os gastos exorbitante e os péssimos serviços públicos. A Copa
não é algoz da ineficiência do Estado brasileiro, mas desnudou definitivamente os grandes problemas que assolam a nação há
décadas. Os indícios são claros de que
esse grande investimento favorece os empresários, as empreiteiras e as
imobiliárias em detrimento da população. Por isso a perguntar é clara e direta. Copa
pra quem?
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Jorge Santana, 26 anos, Professor de História, Mestrando em Ciências Sociais.
* Texto publicado originalmente no jornal do PSOL São Gonçalo Nº 2 - Maio de 2014
* Texto publicado originalmente no jornal do PSOL São Gonçalo Nº 2 - Maio de 2014
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