Por Marcio Ornelas
Sabemos que muitos são os desafios para um governo que faz a gestão
de uma cidade, com tantas mazelas acumuladas historicamente como São
Gonçalo, mas nesse texto vamos elencar 3 questões que consideramos
serem essenciais e urgentes para serem tratadas pelo governo do
Capitão Nelson.
Do imediato: a vida do povo gonçalense
Nenhum desafio se faz tão urgente como a
necessidade de vacinar a população gonçalense, custe o que custar.
Portanto, a preocupação do governo Nelson, ao nosso ver, deveria
ser preparar toda a estrutura municipal de saúde para organizar um
plano de vacinação que tenha como meta, vacinar toda a população
de São Gonçalo o mais rápido possível, começando evidentemente
pelos profissionais de saúde e os grupos mais vulneráveis. Esse
destaque é importante, pois o Brasil tem um dos Programas de
Imunização mais eficientes do mundo, sendo reconhecido
internacionalmente. Mas o Plano Nacional de Vacinação do governo
federal é difuso e pouco confiável, não havendo datas de quando a
vacinação começa e quando ela chega em cidades periféricas como
São Gonçalo. Diante de tanto obscurantismo, o governo Nelson
precisa agir no sentido de garantir a vacinação da população
gonçalense, caso a morosidade do Plano Nacional de Vacinação se
configure de fato num risco eminente para a vida da nossa população.
Vamos fazer uma oposição consequente ao governo Nelson, estando
na linha de frente para garantir a vacinação da população
gonçalense. O que cobramos do governo é presteza em salvar vidas,
justamente o que não conseguimos enxergar no governo federal. Nelson
se elegeu com o apoio de Bolsonaro, mas esperamos que ele não fique
refém da política negacionista do governo federal. Dessa forma,
toda a flexibilização orçamentária deve ser feita para garantir a
vacinação da população (caso o Plano Nacional se mostre mesmo
ineficiente) e não mediremos esforços para que isso aconteça.
Do desenvolvimento: a geração de emprego e renda
A epidemia de COVID-19 teve reflexos
brutais na cidade de São Gonçalo. Para além da óbvia questão de
saúde, afinal, São Gonçalo é a segunda cidade com mais óbitos
por COVID no Estado do Rio de Janeiro, a crise sanitária desnudou
completamente as profundas relações que existem entre desigualdade
social, precarização das relações de trabalho e a saúde da
população. Com uma massa de trabalhadores imensa que está no
trabalho informal (estima-se segundo pesquisa realizada pela UFRJ,
que esse número seja de 30% da população economicamente ativa) e
uma parcela considerável em situação de desemprego, a tão
necessária quarentena para evitar o avanço da doença, se mostrou
na prática algo inviável para boa parcela da população.
Ao mesmo tempo que os esforços de se fazer uma quarentena que de
fato pudesse ser eficaz para combater a disseminação do vírus,
foram desde o início solapadas pelo governo federal, tendo como
maior negacionista o próprio presidente Jair Bolsonaro. Não só
desmoralizando publicamente a medida e os órgãos mundiais de saúde,
como ridicularizando quem defendia o isolamento. Isso fez com que o
Brasil e consequentemente São Gonçalo, jamais conseguisse sair de
um platô que se mantém estável por muitos meses, sempre com
números elevados. Ao mergulharmos na pandemia, que diminuiu o
consumo, encerrou postos de trabalho e levou a falência diversos
empreendedores, sem possuirmos qualquer perspectiva de reestabelecer
a normalidade para que a economia possa ser novamente reaquecida,
transformou-se num pesadelo econômico e social, que encareceu o
custo de vida e deteriorou ainda mais a situação econômica da
classe trabalhadora.
Todos esses elementos, para dizer que sabemos que a questão do
emprego e renda em São Gonçalo é complexa, mas ainda assim
necessária ser enfrentada. A vacina (que esperamos que venha em
breve) poderá ser também um alento nesse sentido, mas é necessário
que o governo Nelson apresente um plano de desenvolvimento econômico.
O que o governo pretende fazer para atrair empresas e indústrias
para São Gonçalo? Qual é o tão alardeado e misterioso plano de
obras que o governo tem prometido nesses primeiros dias? Quais são
as iniciativas para incentivar as atividades econômicas que ainda
resistem na cidade como o polo de moda? Como pretende diversificar a
economia da nossa cidade? O governo Nelson vai criar algum tipo de auxílio emergencial caso a situação de degradação continue e o governo federal vire as costas para o povo?
Não temos ainda resposta para nenhuma dessas perguntas e outras
tantas poderiam ser feitas. Tivemos na verdade uma tentativa de
extinguir a secretaria de turismo e cultura, que embora não tenha se
efetivado devido as pressões da sociedade, demonstram uma visão
tacanha do governo sobre dois daqueles que podem ser braços
importantes para o desenvolvimento e diversificação das atividades
econômicas no município. Portanto, as ações iniciais do governo
Nelson mais inspiram desconfiança do que otimismo.
Do estrutural: a questão das enchentes
Se de fato existir um plano de obras para
ser realizado em breve pelo governo Nelson, seja parceria com o
governo federal ou estadual, para nós do PSOL está nítido que ele
deve ser realizado para sanar a questão das enchentes no nosso
município. Trata-se de outra questão complexa, mas que não pode
ser mais postergada diante dos impactos negativos que tem causado,
ano após ano, para vida da população gonçalense. Sabemos que as
questões do saneamento básico na cidade, são precárias como um
todo, mas o povo não pode mais ficar a mercê das intempéries da
natureza.
O governo Nelson precisa estabelecer imediato diálogo com a
defesa civil, aproveitando todo o corpo técnico qualificado desse
órgão e os muitos anos de experiência, tomar ciência das áreas
mais críticas da cidade e começar a estudar soluções para
resolver o problema. Famílias estão perdendo suas casas, seus bens
materiais e nos casos mais trágicos, pessoas perdem suas vidas. E
aqui não estamos falando de uma hipótese do "se vai acontecer"
, trata-se de quando vai acontecer. Lembrando que estamos num dos
períodos mais críticos do ano em relação a intensidade da chuva.
----------
Marcio Ornelas é professor de geografia, presidente do PSOL São Gonçalo e coordenador da Rede Emancipa.