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Sérgio Camargo e Bolsonaro |
por Josemar Carvalho e Zeneide Lima
As marcas do racismo na sociedade brasileira estão
presentes. Em todas as suas variáveis é possível enxerga-lo. A postura racista
do Estado brasileiro se potencializa ainda mais com ascensão do governo de
extrema direita de Bolsonaro.
O maior exemplo disso ocorreu na última quarta
feira (13 de maio), data onde exatamente se completou 132 anos da abolição da
escravatura. O Presidente da Fundação Palmares Sérgio Camargo, proferiu palavras
contra a memória de Zumbi, o chamando de bandido e transformando princesa
Isabel em heroína. Negando assim toda a história de luta do povo Negro.
Para nós, a postura de Sérgio Camargo presta um
desserviço a luta pela igualdade racial no nosso país, como veremos no artigo a
seguir. Começaremos analisando o contexto da abolição da escravatura, na
sequencia o papel do capitão do mato a frente da Fundação Palmares, e por
ultimo analisamos o governo Bolsonaro dentro da questão racial.
O Contexto da abolição: A princesa Isabel não é
heroína
A abolição brasileira foi a última entre os países
independentes da América. Tardia foi um produto de resistência acumulada do
povo negro durante o tempo, e de um conjunto de pactos entre as elites
regionais da época, que ao longo dos anos foram negociando um saídas
transicionais que envolveram a independência nacional, a unicidade do
território e manutenção da monarquia como forma de poder.
A revoltas e organização pela sua liberdade sempre
existiu ao longo do processo do Brasil. A revolução haitiana de 1804, sempre
assustou as classes dominantes brasileiras que tinham no modelo
agro-exportador-escravocrata o seu pilar. A ameaça de um insurreição preta como
foi no Haiti era uma constante.
Outro aspecto relevante está relacionado a presença
trabalho servil efetivo, diversos estudos apontam que menos de 10% da mão de
obra do ano da abolição era escrava. Pois os processos anteriores (Lei de
Terras -1850; Lei do Ventre Livre-1871; entre outras) já sinalizavam para o fim
da escravidão.
A Lei Imperial nº 3353 de 13 de maio de 1888 deu
“fim formal” à escravidão negra no Brasil, mas longe de representar a
democracia racial. A Lei assinada pela Princesa Isabel, em data comemorativa ao
nascimento de seu bisavô Dom João VI, não colocou o negro em situação de
equidade social, politica e econômica no país. Era uma Lei com dois artigos
apenas, sem nenhuma politica afirmativa e de reparação social.
Sérgio Camargo e nenhum outro Bolsonarista leva
isto em consideração, pois não têm compromisso com a verdade, com ciência
histórica e com defesa da igualdade social e racial. Servem aos senhores do
capital como os capitães do mato serviam a casa grande.
Sergio
Camargo se comporta como um capitão do mato ...
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A figura do capitão do mato está diretamente ligada
ao processo de captura dos negros que fugiam das senzalas e do trabalho
escravo. De acordo com documentos foi este tipo de figura instituído
formalmente por volta do século XVII nas Capitanias Hereditárias do Nordeste.
Em paralelo ao feitor que organizava o trabalho
interno as fazendas e minas, os capitães do mato eram figuras majoritariamente
negras, cooptadas pelos brancos para “caçar” seus irmãos de cor que fugiam da
opressão racial. Os capitães do mato participam de uma espécie de “milícia”
especializada no combate aos quilombos e as fugas.
A luta racial tem muito que avançar em nosso país.
Dados do DIEESE (Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) mostram que
os negros recebem 40% a menos do que os não-negros, além do piores índices de
desemprego que colocam boa parte classe trabalhadora negra do país em situação
de miséria e fome. O cárcere está lotado de negras e negros. O estereótipo
social, construído pela mídia, pelos livros didáticos e outros aparelhos de
poder colocam o negro na condição de subalterno. A violência policial, o
descaso com saúde, com a educação, o transporte e moradia atingem mais
diretamente o nosso povo.
Infelizmente figuras como Sérgio Camargo tem como
papel o único papel confundir, ao invés de mudar o quadro de desigualdade
sócio-racial de nosso país, sendo um agente muito evidente necropolítica do
governo que tem como objetivo de ampliar as desigualdades através do genocídio,
aumento do índice de feminicídio entre a mulheres negras, encarceramento, violência
aos territórios dos quilombos e favelas. Promovendo a manutenção das estruturas
racistas do Estado brasileiro.
Fora Bolsonaro! Fora Sérgio Camargo da Fundação
Palmares!
O governo de Bolsonaro já tem marcas visíveis do
seu caráter genocida, machista, misógino, anti-ambiental, anti-operário e
racista. O excludente de ilicitude foi a prova mais cabal do que estamos
abordando.
A postura de Bolsonaro na pandemia de Coronavirus
revela que ele não está nem aí para vida dos trabalhadores brasileiros, em sua
maioria negros e negras. Prioriza os CNPJ’s das grandes empresas, em prioridade
a vida das pessoas. Tirar Bolsonaro é necessário para salvar o país do abismo.
Ao colocar Sérgio Camargo, a
frente da Fundação Palmares, Bolsonaro tem como objetivo destruir o histórico
da nossa luta. Sérgio Camargo é um negro militante da extrema
direita brasileira. Bolsonarista aceitou o papel de ser um capataz de
pensamento fascista na questão racial.
Ao assumir a Fundação Palmares no governo Bolsonaro,
Sérgio Camargo tentou desconstruir as nossas conquistas e ironizou figuras
importantes do nosso legado. Sobre as cotas raciais declarou que precisam acabar. Sobre a memoria de Zumbi, argumentou várias falácias
sem nenhuma comprovação cientifica, chegando a afirmar que “No
Brasil de hoje Zumbi seria um bandido ou defensor de bandido, integrante do
MST”. Sobre a companheira
Marielle, celebrou a sua morte: É preciso que Marielle morra, só assim ela deixará
de encher o saco!”.
O papel da
Fundação Palmares, criada pela Lei Federal nº 7.668, de 22 de
agosto de 1988, é de “promover a preservação dos valores culturais, sociais e
econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade
brasileira”. Diferente disso ao transformar A Princesa Isabel em Heróina e
Zumbi em bandido, Sérgio Camargo presta um desserviço a luta do povo negro.
Trai nossos ancestrais. Tenta ridicularizar nossa cultura e os nossos heróis.
É preciso gritar em o alto e
bom tom, Fora Bolsonaro e seus capitães do mato!!!
* Josemar Carvalho, 44 anos, professor universitário e da rede pública de ensino. Coordenador e Educador Popular da Rede Emancipa. Membro do Diretório Nacional e Estadual do PSOL.
* Zeneide Lima, 37 anos, Mestre em Psicologia Social, terapeuta ocupacional, Coordenadora do Coletivo Feminista Juntas. Membra da Executiva Nacional do Diretório Nacional do PSOL.