por Isabel Tomaz
2014 marca 50 anos do Golpe
Civil Militar que durou 21 anos. A memória do período da ditadura passeia pelo
"imenso" avanço econômico de determinadas classes da sociedade; ou
pelas obras faraônicas, como a Ponte Presidente Costa e Silva, a Rio-Niterói;
ou pelo tricampeonato da Seleção Brasileira de Futebol em 1970 "Pra frente
Brasil, salve a Seleção!"; ou pela segurança pública, que muitos dizem que
era impecável - "podia-se" andar na rua tranquilamente sem o medo de
ser assaltada.
Não. Essa foi a época da
repressão, da censura, dos desaparecimentos e de diversos fatores que deixaram
marcas severas na história do Brasil. A união das forças armadas com setores da
sociedade, sobretudo do empresariado, fizeram que "O país que anda pra
frente", retrocedesse. Todas as transformações desse período ocorreram à
custa de muita violência. Com os opositores do Regime Militar presos, espancados,
torturados e mortos. Com diversos ataques a consciência política da sociedade,
visto a falta de debates. Ou com a existência de apenas dois partidos, que jogavam
o mesmo jogo do Estado golpista (MDB x ARENA). Da cassação dos direitos
políticos de diversas pessoas. Da repressão aqueles que lutavam contra as condições
precárias de trabalho - a ditadura no Brasil atingiu demais a classe
trabalhadora.
Não devemos esquecer este
momento. O "deixa isso pra lá; melhor não falar." É exatamente o que
falam os que fizeram atrocidades neste período, como os torturadores e aqueles
que apoiaram e ajudaram a ditadura. Se engana quem pensa que essa realidade
sombria está longe de São Gonçalo. A Ilha das Flores, que faz parte da Marinha
Brasileira, fica localizada no bairro de Neves, foi palco da repressão e da
tortura com que o Estado Brasileiro da época tratava seus opositores. Durante
as décadas de 60 e 70, a Ilha, que servia como ponte de imigrantes recém
chegados no Brasil, foi um dos locais onde funcionava o DOI - CODI
(Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa
Interna) e, assim como outros destacamentos que existiram no país, fazia parte
da lógica do regime militar na garantia da dita democracia do momento, da
liberdade do Estado Brasileiro do mal dos comunistas, à custa de torturas que
diversas pessoas ali passaram.
É de extrema necessidade a
compreensão que ainda existem muitas barreiras que devemos quebrar, ainda
existem diversos resquícios autoritários na nossa história. Quando explicamos o
que foi o Regime Civil Militar e o tenebroso AI -5 (Ato Institucional nº5, em
dezembro de 1968) que marcou, de vez, o endurecimento das ações do Estado golpista,
podemos achar que isso ficou para trás, que nunca mais vai acontecer. Porém,
2014 vem com o projeto que muitos já chamam de "AI-5 da Copa" ou o
"AI - 5 da Dilma" - a mesma que foi presa e sofreu torturas na ditadura.
Se for aprovada, o Estado terá plenos poderes em condenar os
"vândalos" que protestarem durante a Copa do Mundo no Brasil.
Não devemos nunca esquecer
que a violência das Forças Armadas, entre 1964-85, ainda se faz presente nas
favelas, principalmente quando as forças policiais e armadas são chamadas para
garantir uma paz falsa, uma paz que mata mais. E como não relacionar a falta de
liberdade de expressão, que fora tão presente na ditadura - com censuras a
músicas, novelas, peças de teatro; ou com a proibição de notícias contrárias ao
regime - com o que vivemos hoje? Hoje, Rede Globo, Record, SBT e suas
respectivas filiais controlam o que vemos, ouvimos e lemos. Não existe espaço
para outras mídias.
Temos que lutar para
transformar a realidade que vivemos. Mas, só conseguiremos mudá-la quando
percebemos que é preciso sim, retornar ao nosso passado, que no caso da
Ditadura Civil Militar, é algo ainda muito recente. Precisamos pressionar as
Comissões da Verdade criadas, para descobrirmos o que aconteceu com os corpos e
com os restos mortais daqueles que foram brutalmente assassinados pelo Estado
Brasileiro, pelas Forças Armadas. Para todos saibam quem foram os torturadores
da época. Precisamos confrontar o que aconteceu para mudar nosso presente e,
sobretudo, nosso futuro.
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Isabel Tomaz, estudante de história da FFP/UERJ e militante do PSOL São Gonçalo
* Texto publicado originalmente no jornal do PSOL São Gonçalo Nº 2 - Maio de 2014
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