Por Marcio Ornelas
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Pericar (Vice) e Nanci(Prefeito) juntos destruindo São Gonçalo |
A eleição de 2016 em São Gonçalo, foi um pleito no
mínimo curioso. Justamente os dois candidatos que fugiram de todos os debates,
que passaram o período da campanha sem apresentar uma única proposta concreta
para a cidade, chegaram ao segundo turno. Tal acontecimento nos propiciou um
dos momentos mais embaraçosos da história política do município: o trágico
debate entre Nanci e Dejorge, organizado pelo G1. Para quem ainda possa ter
interesse deixo o link do debate aqui.
Reinou o deserto de ideias, a incapacidade de
formulação de frases que fizessem algum sentido e a certeza de que estávamos
diante de dois despreparados para o cargo. Seja qual fosse o resultado daquela
eleição, São Gonçalo estaria fadada ao atraso e a incompetência por mais 4
anos. Deu Nanci e cá estamos no final de 2019, presenciando um dos piores
governos da história de São Gonçalo.
Nepotismo, paralisia e subserviência: algumas
características nefastas
Se tivesse que escolher apenas três, provavelmente
ficaria com essas do subtítulo. O governo Nanci é marcado pela ausência de
comando e de iniciativas reais para enfrentar os sérios problemas da cidade. A
sensação que tenho como morador, amplamente compartilhada, é a de que São
Gonçalo ficou paralisada no tempo, onde absolutamente nada aconteceu. O
prefeito se comporta como um passageiro do próprio governo, assistindo
passivamente o deterioramento das condições de vida e dos serviços públicos na
cidade. Não dá nem para dizer que fomos profundamente enganados por Nanci, ele
foi eleito sem dizer absolutamente nada e assim é o seu governo. Mas é
necessário fazermos algumas reflexões para que não repitamos os mesmos erros.
A política gonçalense tem um histórico terrível de
casos de prefeitos que empregaram a bel prazer todo o tipo de familiares, na maioria
dos casos gente sem qualquer competência para assumir funções importantes na
administração pública. Essa é a velha política na sua forma mais amoral, pois
ignora o compromisso público com a ética para favorecer seus consanguíneos.
Talvez o caso mais emblemático seja a gestão de Aparecida Panisset, governo
marcado por escândalos de corrupção, que no fim terminou com ela inelegível e
seu irmão preso. Deveria ser compromisso de qualquer candidato ao cargo de
prefeito não empregar parentes na sua gestão. Mas a primeira coisa que Nanci
fez foi dar a sua esposa poderes imperiais para mandar e desmandar no governo,
primeiro criando um cargo fantasia não remunerado e posteriormente rompendo o
pudor e fazendo uma nomeação oficial. E a lista não parou por aí, teve genro,
mãe do genro, primo, sobrinha e sabe lá mais quem possa ter passado
desapercebido. Uma vergonha essa prática e um escárnio com o povo gonçalense.
A paralisia patológica do governo Nanci se combina a
um projeto político terrível de sucateamento dos serviços públicos. A situação
da educação é uma das questões que mais chama a atenção. Temos uma composição
perfeita para o caos, com profissionais mal remunerados, falta de professores
nas escolas, falta de merenda e estruturas caindo aos pedaços. A situação das
creches públicas no município, já foi alvo de uma série de reportagens, onde
crianças se amontoam em condições absolutamente degradantes. No que tange a
saúde, é uma fantasia de péssimo gosto dizer que aconteceram avanços
significativos. Sugiro que percorram os postos de saúde para a averiguar quanto
tempo em média leva para agendar uma consulta, ou quantos efetivamente possuem
médicos que atendam com regularidade. Ou que procurem um atendimento no PS e
constatem como o povo gonçalense está completamente abandonado. Mas o desastre
desse governo não passa impune sem a luta dos trabalhadores, com especial
destaque para a greve dos profissionais da educação e a mobilização recorrente
dos agentes comunitários de saúde.
Para um governo sem qualquer compromisso com a
qualidade da educação, não chega a ser espantoso que também não tenha qualquer
preocupação com a cultura. Assim, em três anos de governo, a falta de um
projeto que dê viabilidade ao uso do Teatro Municipal, é um sintoma gritante de
um governo incompetente e imóvel. Soma-se a isso o desmonte da única biblioteca
pública de São Gonçalo e temos uma gestão alheia ao desenvolvimento educacional,
cultural e artístico da nossa cidade.
Mas há ainda a subserviência que está no DNA de todos
os prefeitos que passaram por São Gonçalo. Uma subserviência aos esquemas da
velha política e aos poderosos empresários de ônibus. Nanci escapou de uma
investigação (seu governo era acusado de desvio de verbas dos cemitérios
municipais), submetendo-se aos desejos da câmara de vereadores. Isso na
política gonçalense, está sempre traduzido numa maior quantidade de cargos que
um vereador aliado ao governo pode indicar junto a prefeitura. Um círculo
vicioso do qual São Gonçalo não consegue se livrar.
O PSOL junto aos trabalhadores do transporte
alternativo, acionou a justiça para derrubar a lei que coloca esses
trabalhadores em situação de ilegalidade. Conseguimos a vitória, com parecer
judicial que apontava uma série de irregularidades no Consórcio São Gonçalo de
Transporte. Foi uma vitória legítima da mobilização dessa categoria, que só reivindica
o direito de poder trabalhar em paz. Cabia a prefeitura criar um sistema para
regularizar o transporte alternativo. Mas o prefeito Nanci não regularizou e
ainda colocou o aparato jurídico da prefeitura para recorrer da decisão judical
que beneficiava os trabalhadores. Não se pode servir à dois senhores ao mesmo
tempo e Nanci mostrou que está mesmo com os empresários de ônibus.
O Vice que queria ser prefeito
Na era de ouro das fake news, não existiu nada mais
fake nesses três anos de governo do que a oposição de Ricardo Pericar ao
governo Nanci. É patético e até mesmo constrangedor, o vice-prefeito da cidade
escolher um local abandonado, com um amontoado de lixo e gravar um vídeo “denunciando”
a situação de degradação vigente, como se nada tivesse a ver com isso.
Por esse papel ridículo é que Pericar vira um capítulo
a parte nesse texto. Pois abraçou conscientemente uma candidatura vazia de
ideias e de projetos, apenas com o intuito pragmático de alcançar o governo.
Sua grande parcela de responsabilidade na eleição de Nanci e consequentemente
nesse caos que hoje se encontra São Gonçalo, não será esquecida. Mas é pior
ainda a postura que adotou depois que o governo teve início, comportando-se
como se não fizesse parte da gestão e como se não tivesse responsabilidade
sobre nada. O que Pericar fez não é uma oposição séria e responsável, é apenas
deslealdade com o companheiro de chapa e puro oportunismo político para minar o
prefeito, na tentativa de pavimentar um caminho curto e abjeto para a
prefeitura. Se fosse para ser sério, teria renunciado ao cargo que ocupava no
primeiro momento que tivesse percebido a tragédia na qual ajudou a colocar São
Gonçalo.
Mas só saiu realmente quando foi obrigado pelos
vereadores a renunciar para assumir o cargo de deputado federal. É esse sujeito
que se movimenta única e exclusivamente para atender as suas aspirações
pessoais, que quer se apresentar como uma alternativa política viável para São
Gonçalo. Fiquemos atentos, pois nossa cidade já foi refém por muitos anos de
políticos aventureiros.
Conclusão
Temos uma tarefa política urgente para o próximo
período: derrotar os projetos políticos que querem impor o atraso, a
truculência e a velha política para São Gonçalo. Esse projeto se apresenta
fundamentalmente na reeleição de Nanci e em Dejorge. Essas são as candidaturas
chefes da velha política e representam o deserto de ideias.
Mas as candidaturas que não possuem apreço pela
democracia, que optam pela truculência e pela violência como método, que
apresentam concepções racistas e machistas de sociedade, também terão vez em
São Gonçalo. Ou com um aventureiro ou com o político forasteiro que de repente
começou a demonstrar interesse pela nossa cidade.
São Gonçalo e o nosso povo não suportam mais o descaso
e oportunismo. Somos uma cidade gigante e com muitas potencialidades, mas que
está apequenada nas mãos dessa gente que não possui qualquer compromisso com as
demandas reais dos trabalhadores. Os anos de descaso e de abandono, tentam
roubar o brio da nossa gente, mas é preciso seguir em frente e encontrar forças
para reagir.
Reunir os progressistas que querem debater ideias e
projetos para São Gonçalo, nesse momento é fundamental. Construir uma agenda
propositiva para ser defendida e que possa ser pauta de luta para melhorias na
nossa cidade.
Nesse sentido o PSOL faz questão de saudar uma
iniciativa muito interessante que é o Fórum de Dsenvolvimento Sustentável e
Resistência Democrática, como um espaço que pode se desenvolver de forma
saudável com o objetivo de refletir sobre a cidade e construir um programa que
possa ser encabeçado pelos lutadores.
É o momento de uma virada, de um equilíbrio necessário
para a disputa política real. Não queremos, ano após ano, estarmos refletindo
sobre governos incompetentes e desastrosos como esse de Nanci-Pericar. Queremos
estar aprofundando as discussões para melhorar as condições de vida do
gonçalense e finalmente andarmos para frente!
Marcio Ornelas, 30 anos, professor de geografia. Presidente do PSOL São Gonçalo/RJ, Coordenador da Rede Emancipa de Educação Popular.