segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Sobre Politica Brasileira, Lula Livre e Messianismo.

Maycon Arcanjo


Lula sendo recebido após a soltura
Após aproximadamente 580 dias de prisão o ex presidente Lula foi finalmente libertado. A constituição foi obedecida, o que nos dá ao menos um leve sopro de esperança na manutenção das instituições democráticas.

Apoiar a soltura do ex presidente não significa automaticamente apoio total e irrestrito, muito menos assinatura de um atestado de inocência. Significa que defendemos o cumprimento da lei e da constituição que vinham sendo vilipendiadas para que o ex presidente fosse impedido de participar do pleito eleitoral e assim facilitar a ascensão de um projeto de poder com aspirações protofacistas, de um grupo que se vende como novo mas é representante daquilo que há de mais velho, caquético e desgastado no baixo clero da politica nacional.

Isto posto, convém lembrar que tal situação só foi possível graças às politicas de conciliação de classes implementadas pelo próprio ex presidente, alianças com partidos como: MDB, PP (que à época era o partido do Bolsonaro, que serviu de base de sustentação para Lula), entre outros. Ao fazer o jogo do poder, Lula e o PT afastam-se progressivamente dos maiores interesses da classe trabalhadora, e mesmo reconhecendo os avanços de seu governo em direçao aos mais pobres, muito pouco representaram diante dos benefícios adquiridos pelos grandes donos do capital. Estes mesmos que posteriormente viraram as costas para o projeto do PT, quando lhes pareceu mais conveniente.
Após a euforia inicial da libertação de um homem que é sim um grande ícone da politica nacional, com um enorme poder de mobilização, é necessário lembrar que Lula não "salvará" o Brasil, nem ele e nem ninguém sozinho. Deixe-me explicar, nós brasileiros carregamos muitos traços de Portugal, nossa antiga  metrópole e um deles é o que chamamos de messianismo.

Messianismo é a ideia que em momentos de crise aparecerá uma figura que de forma miraculosa mudará "tudo isso aí que esta errado". Em nossa história ja tivemos muitos pretendentes a isso: Collor, Fernando Henrique, o próprio Lula, Joaquim Barbosa, Sérgio Moro, Bolsonaro...

O messianismo é conveniente pq ele nos tira das costas o peso da responsabilidade. A responsabilidade da luta diária, de viver uma vida ética, de entender que politica vai além de partidos, legendas, sistemas de votação e eleições. O ser político na verdade é simplesmente ser, pois viver é fazer política.

Por isso, nem Lula e nem ninguém acabarao simplesmente com todos os nossos problemas. A única forma de experimentarmos mudanças profundas e radicais em nossas vidas (o que chamamos comumente de revolução), é com a organização da classe trabalhadora, de todos nós que produzimos de fato a riqueza de nosso país.

Somente quando tomarmos consciência de quem somos, que lado estamos e qual o nossos papel, quais são nossos interesses, e nos organizar para juntos lutarmos pelas mudanças necessárias, entendermos que a única saída é a resistência diária e a luta organizada, só assim poderemos desfrutar daquilo que almejamos.

Lula esta livre, vamos ver agora como ele vai usar o poder de mobilização e articulação que possui. Se vai conclamar as massas para as ruas, para a luta por direitos que nos estão sendo retirados dia a dia. De qualquer forma é necessário sempre lembrar o fundamental é a luta, e a consciência que ela é diária e de todos nós e que só a organização da classe trabalhadora poderá nos levar onde deveríamos estar.

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Maycon Arcanjo, morador do Morro do Castro, é filiado ao PSOL São Gonçalo. Estuda História na UERJ FFP. Coordenador e professor do pré-vestibular da Rede Emancipa no pólo do Porto Novo aqui em São Gonçalo.


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