Maycon Arcanjo
Após aproximadamente 580
dias de prisão o ex presidente Lula foi finalmente libertado. A constituição
foi obedecida, o que nos dá ao menos um leve sopro de esperança na manutenção
das instituições democráticas.
Apoiar a soltura do ex
presidente não significa automaticamente apoio total e irrestrito, muito menos
assinatura de um atestado de inocência. Significa que defendemos o cumprimento
da lei e da constituição que vinham sendo vilipendiadas para que o ex
presidente fosse impedido de participar do pleito eleitoral e assim facilitar a
ascensão de um projeto de poder com aspirações protofacistas, de um grupo que
se vende como novo mas é representante daquilo que há de mais velho, caquético
e desgastado no baixo clero da politica nacional.
Isto posto, convém lembrar
que tal situação só foi possível graças às politicas de conciliação de classes
implementadas pelo próprio ex presidente, alianças com partidos como: MDB, PP
(que à época era o partido do Bolsonaro, que serviu de base de sustentação para
Lula), entre outros. Ao fazer o jogo do poder, Lula e o PT afastam-se
progressivamente dos maiores interesses da classe trabalhadora, e mesmo
reconhecendo os avanços de seu governo em direçao aos mais pobres, muito pouco
representaram diante dos benefícios adquiridos pelos grandes donos do capital.
Estes mesmos que posteriormente viraram as costas para o projeto do PT, quando
lhes pareceu mais conveniente.
Após a euforia inicial da
libertação de um homem que é sim um grande ícone da politica nacional, com um
enorme poder de mobilização, é necessário lembrar que Lula não
"salvará" o Brasil, nem ele e nem ninguém sozinho. Deixe-me explicar,
nós brasileiros carregamos muitos traços de Portugal, nossa antiga metrópole e um deles é o que chamamos de
messianismo.
Messianismo é a ideia que em
momentos de crise aparecerá uma figura que de forma miraculosa mudará
"tudo isso aí que esta errado". Em nossa história ja tivemos muitos
pretendentes a isso: Collor, Fernando Henrique, o próprio Lula, Joaquim
Barbosa, Sérgio Moro, Bolsonaro...
O messianismo é conveniente
pq ele nos tira das costas o peso da responsabilidade. A responsabilidade da
luta diária, de viver uma vida ética, de entender que politica vai além de
partidos, legendas, sistemas de votação e eleições. O ser político na verdade é
simplesmente ser, pois viver é fazer política.
Por isso, nem Lula e nem
ninguém acabarao simplesmente com todos os nossos problemas. A única forma de
experimentarmos mudanças profundas e radicais em nossas vidas (o que chamamos
comumente de revolução), é com a organização da classe trabalhadora, de todos
nós que produzimos de fato a riqueza de nosso país.
Somente quando tomarmos
consciência de quem somos, que lado estamos e qual o nossos papel, quais são
nossos interesses, e nos organizar para juntos lutarmos pelas mudanças
necessárias, entendermos que a única saída é a resistência diária e a luta
organizada, só assim poderemos desfrutar daquilo que almejamos.
Lula esta livre, vamos ver
agora como ele vai usar o poder de mobilização e articulação que possui. Se vai
conclamar as massas para as ruas, para a luta por direitos que nos estão sendo
retirados dia a dia. De qualquer forma é necessário sempre lembrar o
fundamental é a luta, e a consciência que ela é diária e de todos nós e que só a
organização da classe trabalhadora poderá nos levar onde deveríamos estar.
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Maycon Arcanjo, morador do
Morro do Castro, é filiado ao PSOL São Gonçalo. Estuda História na UERJ FFP.
Coordenador e professor do pré-vestibular da Rede Emancipa no pólo do Porto
Novo aqui em São Gonçalo.
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