quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

A PM matou meu filho ...

por PH Lima


A funkeira Taty Quebra Barraco
No último dia 11 de Dezembro (Domingo) dois jovens foram assassinados na Cidade de Deus pelas balas da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Yuri Lourenço da Silva (19 anos) e Jean Rodrigues de Jesus (22 anos). Como sempre acontece, os policiais da UPP que os assassinaram, apresentaram a versão de que os mesmos estariam armados e atiraram contra a guarnição. Porém, na delegacia, a única arma apresentada pelos policiais foi uma pistola, o que evidencia, que no mínimo um dos jovens não estava armado e dificilmente o outro (se portasse tal pistola) atiraria na policia estando apenas armado com uma arma de baixo calibre, contra policiais. Mais um caso com fortes indícios de “Auto de resistência” (quando o policial assassina uma pessoa em legítima defesa e exercendo sua função legal) forjado, com sinais de extermínio. Essa versão é apresentada por todos os policiais que matam nas favelas e periferias do Brasil em operações “de rotina”, que assim como essa, apresentam diversos “lacunas”. 

Certamente essa história não teria ganhado nenhuma repercussão na mídia, caso um dos jovens, Yuri, não fosse filho da funkeira Tati Quebra Barraco. Porém, ser famosa não impediu que a cantora fosse atacada covardemente por pessoas racistas e cruéis que invadiram suas redes sociais com ofensas, xingamentos e com exposições de fotos dos corpos dos adolescentes provavelmente tiradas e divulgadas pelos próprios policiais. Vermes psicopatas, tanto os que mataram os meninos e fotografaram como um “prêmio”, quanto os imbecis que foram na página de uma mãe, que acabou de perder seu filho, ataca-la. 

É preciso cobrir de solidariedade Tati e todas as mães negras e faveladas que perderam seus filhos nas mãos da PM. Essa instituição criminosa criada para caçar escravos e que segue sendo o maior instrumento do Estado para prender e matar o povo negro e periférico! É preciso também denunciarmos o papel da mídia que, na prática impulsionou os ataques a Tati, Será que alguma reportagem iria relativizar a morte do rapaz, se fosse branco, morador da zona sul e filho de uma cantora branca de um outro genero musical? Certamente não, ao contrário, seria motivo de comoção nacional!  Qualquer relativização feita sobre Yuri, é, no mínimo imprópria para o momento.
“Esperamos que a verdade - sobre uma suposta troca de tiros que nunca ocorreu - chegue à tona e que os responsáveis por registrarem/divulgarem fotos indevidas/desrespeitosas em um momento como esse sejam punidos.” (Trecho da nota oficial da cantora)

Como a própria Tati disse em seu post: “A PM tirou um pedaço de mim que já mais será preenchido. A PM MATOU MEU FILHO. Essa dor nunca irá cicatrizar.” Infelizmente, Tati não foi a primeira e nem será a última mãe de um jovem negro assassinado no Brasil. Na verdade, a cada 23 minutos (segundo a CPI de Assassinato de Jovens feita pelo do Senado) um jovem negro é assassinado no país. Em São Gonçalo e em todas as periferias do Brasil essa realidade diária, também é a mesma. É um massacre continuado, onde os jovens negros e pobres são os únicos alvos. 

Os ataques covardes contra Tati, são ataques à todas as mães negras e pobres que não têm garantido nem mesmo o direito de “velarem” seus filhos em paz. São ataques à todo povo negro e pobre! Por isso o PSOL  São Gonçalo expressa sua total solidariedade e respeito à Tati e a sua família. Nos juntamos ao bonde que exige que as investigações sobre o caso se aprofundem e que não caiam no véu da impunidade como tantos outros “Silvas” vítimas de Governos Genocidas. Yuri e Jean, Presentes! 


******************************

Paulo Henrique  Lima (PH Lima), 28 anos, é estudante de direito e secretário de comunicação do PSOL São Gonçalo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário