sexta-feira, 28 de março de 2014

Da Revolta da Chibata ao motim dos lixeiros, o Rio de Janeiro sublevado

por Jorge Santana

Há 114 anos, a cidade do Rio de Janeiro foi sacudida por uma rebelião na baía de Guanabara, a Revolta da Chibata. O caos tomou conta da capital da república quando marinheiros tomaram os dois mais potentes navios da Marinha e ameaçavam bombardear a cidade se suas reivindicações não fossem atendidas. Eram mais de dois mil marinheiros pobres, quase todos não brancos e subalternos. 

A Revolta da Chibata, em 1910, desafiou a hierarquia militar da Marinha do Brasil, os praças reivindicavam o fim dos castigos físicos, melhores condições de trabalho, aumento do soldo, direito a voto e ao casamento. O líder deles era João Cândido, um marinheiro negro, corajoso e destemido. Contudo, é importante assinalar que os marinheiros não tinham sindicato. Durante a tomada dos navios dois oficiais foram mortos. O governo federal aceitou o fim das punições físicas e a anistia dos rebeldes. Ao baixarem as armas ocorreu à caça às bruxas e a grande maioria dos revoltosos foram presos, expulsos da Marinha e outros assassinados sumariamente. 

Em fevereiro de 2014, a cidade do Rio de Janeiro foi novamente sacudida por um motim, como disse o Prefeito Eduardo Paes, “o motim da vassoura”. O principal evento da cidade estava ameaçado de ser tornar um carnaval de lixo. Os garis entraram em greve em pleno carnaval sem açúcar e afeto. Apontando suas vassouras para a prefeitura exigiam aumento salarial, aumento do vale-alimentação e o pagamento do adicional de 40% de insalubridade. Eram mais de dois mil lixeiros pobres, quase todos não brancos e subalternos. O carnaval passou e uma montanha de lixo ficou espalhada pela cidade. O Sindicato acusava a greve de ser ilegal e o prefeito rangendo os dentes ameaçava colocar 300 garis na rua. No dia 6 de março, o mais ilustre gari do Brasil e símbolo do carnaval carioca, Sorriso aderiu à greve comparecendo na manifestação e foi carregado por seus companheiros de trabalho. A greve terminou vitoriosa com a conquista de grande parte das reivindicações e um aumento de 37%. 

Os dois pontos que ligam essas duas histórias de coragem e determinação separadas por um século são as condições em que ambos os casos a classe trabalhadora era super discriminada, com salários de miséria e composta basicamente por negros, pardos e pretos. Quando profissionais como esses enfrentam o status quo e saem com louros de vitória, é porque toda a luta digna é válida. De João Cândido a Sorriso a luta continua! Glória a todas as lutas inglórias!

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Jorge Santana, 26 anos, Professor de História, Mestrando em Ciências Sociais.

2 comentários:

  1. Jorginho, um ótimo texto e uma feliz correlação histórica. Parabéns, meu irmão.

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  2. Obrigado Aliris, essa greve dos garis foi de bastante importância para essa classe que vive na marginalidade e para tantas outras. A luta é cotidiana!

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