por Jorge Santana
Há 114 anos, a cidade do Rio de Janeiro foi sacudida por uma rebelião na baía de Guanabara, a Revolta da Chibata. O caos tomou conta da capital da república quando marinheiros tomaram os dois mais potentes navios da Marinha e ameaçavam bombardear a cidade se suas reivindicações não fossem atendidas. Eram mais de dois mil marinheiros pobres, quase todos não brancos e subalternos.
A Revolta da Chibata, em 1910, desafiou a hierarquia militar
da Marinha do Brasil, os praças reivindicavam o fim dos castigos físicos,
melhores condições de trabalho, aumento do soldo, direito a voto e ao
casamento. O líder deles era João Cândido, um marinheiro negro, corajoso e
destemido. Contudo, é importante assinalar que os marinheiros não tinham
sindicato. Durante a tomada dos navios dois oficiais foram mortos. O governo
federal aceitou o fim das punições físicas e a anistia dos rebeldes. Ao
baixarem as armas ocorreu à caça às bruxas e a grande maioria dos revoltosos
foram presos, expulsos da Marinha e outros assassinados sumariamente.
Em fevereiro de 2014, a cidade do Rio de Janeiro foi
novamente sacudida por um motim, como disse o Prefeito Eduardo Paes, “o motim
da vassoura”. O principal evento da cidade estava ameaçado de ser tornar um
carnaval de lixo. Os garis entraram em greve em pleno carnaval sem açúcar e
afeto. Apontando suas vassouras para a prefeitura exigiam aumento salarial,
aumento do vale-alimentação e o pagamento do adicional de 40% de insalubridade.
Eram mais de dois mil lixeiros pobres, quase todos não brancos e subalternos. O
carnaval passou e uma montanha de lixo ficou espalhada pela cidade. O Sindicato
acusava a greve de ser ilegal e o prefeito rangendo os dentes ameaçava colocar
300 garis na rua. No dia 6 de março, o mais ilustre gari do Brasil e símbolo do
carnaval carioca, Sorriso aderiu à greve comparecendo na manifestação e foi
carregado por seus companheiros de trabalho. A greve terminou vitoriosa com a
conquista de grande parte das reivindicações e um aumento de 37%.
Os dois pontos que ligam essas duas histórias de coragem e
determinação separadas por um século são as condições em que ambos os casos a classe trabalhadora era super discriminada, com
salários de miséria e composta basicamente por negros, pardos e pretos. Quando
profissionais como esses enfrentam o status
quo e saem com louros de vitória, é porque toda a luta digna é válida. De
João Cândido a Sorriso a luta continua! Glória a todas as lutas inglórias!
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Jorge Santana, 26 anos,
Professor de História, Mestrando em Ciências Sociais.
Jorginho, um ótimo texto e uma feliz correlação histórica. Parabéns, meu irmão.
ResponderExcluirObrigado Aliris, essa greve dos garis foi de bastante importância para essa classe que vive na marginalidade e para tantas outras. A luta é cotidiana!
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