Afonso Aguena, o Catatau, era um militante especial. Nos deixou ontem, aos 60 anos. Extremamente dedicado, corajoso, estudioso e prático. Um dirigente com sentido da disputa política, sempre buscando ocupar espaço. Mas o espaço pelo qual lutava não era para ter um lugar individual, mas para que a organização em que ele estava integrando em dado momento crescesse e se fortalecesse. Era um militante de organização e de partido. As organizações que ele dirigiu foram a Convergência Socialista (CS), o PSTU e a Resistência, corrente interna do PSOL.
Fui camarada de Catatau durante a CS, de 1985, quando ingressei, até 1992, quando saí da CS. Em 2003, impulsionei a fundação do PSOL mas nunca deixei de observar o que estava pensando e fazendo o PSTU. Um dos motivos que me fazia não tirar o olho desta organização trotskista era o papel dirigente que Catatau exercia nela. Foi uma alegria quando Catatau resolveu dirigir uma fração que se incorporou ao PSOL. Estávamos tentando nos aproximar mais, e a morte trágica desse importante líder abortou esse caminho, que certamente nos levaria a um novo encontro.
Nunca as palavras serão suficientes para definir o quanto lamento. Lembro bem de uma das conversas que tive com Catatau. Era 2013, no calor das mobilizações. Em nome do MES, estive em São Paulo, na sede do PSTU. A reunião foi com Eduardo Almeida e Zé María. Estava também Zequinha. Catatau não estava na tarefa pelo PSTU. Mas nos encontramos na saída. Conversamos um pouco. Como sempre, ele não perdia tempo. Sabia que ele não estava muito satisfeito com a política do PSTU. Mas ele era também disciplinado. Não era político de se queixar. Naquela ocasião, em que buscávamos o PSTU para discutir ações comuns, ele me disse: “Cuide deste menino, ele é muito bom, especial. Entre os jovens, não há um tão bom quanto ele”. Catatau se referia a Israel Dutra, que estava comigo naquela visita e já começava a ser um dos principais dirigentes do MES. Hoje, Israel é secretário-geral do PSOL e do Bureau da IV Internacional. Catatau via longe.
Alguns anos depois, ele também me alertava: “Estão cuidando bem do velho?”. Se referia a Pedro Fuentes, veterano militante trotskista argentino/brasileiro que foi fundador do MES e ativista desde os anos 1960. Pedro segue bem cuidado e defendido com toda a força do MES. E todos lamentamos muito a tua partida tão cedo, Catatau! A morte de Catatau é também uma derrota do MES. E por ele também seguiremos. Com a firmeza que ele também nos ensinou a ter.
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Roberto Robaina é dirigente do PSOL e do Movimento Esquerda Socialista (MES), editor da Revista Movimento e vereador de Porto Alegre.
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