por Pedro He-man
A tradicional
Praça Chico Mendes, localizada no Alcântara, foi fechada para reforma. Para
surpresa do povo, o resultado foi uma Praça da Bíblia custeada em dois milhões
de reais. Ainda que a obra seja de Panisset, a indiferença da atual gestão
com um importante local da prática cultural na cidade, é no mínimo
incompreensível.
As
mudanças foram radicais, pois a praça anterior continha pista de skate, além
disso, era o reduto das tribos roqueiras que promoviam encontros no local nas
noites de sexta e sábado. Que recursos um grupo alternativo, muito comum nas
cidades grandes, poderia ter em uma cidade periférica como São Gonçalo?
Infelizmente, o que restou foi uma praça, agora, gradeada e “enfeitada” com
lonas presas em estruturas triangulares de ferro, fazendo alusão aos
pergaminhos copilados na escritura judaico-cristã.
Primeiramente há uma grande contradição, pois é um grave retrocesso na mentalidade de um governo a disposição de gradear um espaço público, em tempos onde na capital, Rio de Janeiro, vemos o processo de forma inversa. Vide a reforma na Praça Tiradentes que hoje agrega os transeuntes.
Primeiramente há uma grande contradição, pois é um grave retrocesso na mentalidade de um governo a disposição de gradear um espaço público, em tempos onde na capital, Rio de Janeiro, vemos o processo de forma inversa. Vide a reforma na Praça Tiradentes que hoje agrega os transeuntes.
Segundo,
foi um desrespeito à memória de São Gonçalo, pois a praça era um ponto de
referência no local e conhecida em toda região como Chico Mendes. E também um
ataque à memória de Chico Mendes, morto no fim dos anos 80 por ruralistas
latifundiários.
Também
cabe ressaltar a falta de respeito para com os roqueiros e skatistas que faziam
do local sua área de “lazer” e interação social. Não houve reforma na pista de
skate e nem mesmo incentivo aos encontros alternativos da juventude.
Sem
contar que o Estado é laico, mas ainda assim, é tolerável a homenagem e o
incentivo ao turismo religioso. São Gonçalo possui o maior tapete de Corpus
Christi da América Latina e é o munício onde foi fundada a Umbanda. Um ótimo atrativo
para diversos fiéis. Aliás, o centenário da Umbanda sequer foi citado na gestão
evangélica da cidade. Ou seja, não houve incentivo algum para com as demais
religiões, exceto a evangélica, religião da anterior e do atual prefeito.
Este
não é um ataque aos evangélicos, que merecem respeito e amparo civil, enquanto
cidadãos de direitos. Um exemplo acertado foi a realização de uma
obra de pavimentação do Morro da Amendoeira, onde fiéis sobem até o topo para
realizar suas orações. Uma decisão coerente, já que o local estava abandonado e
perigoso e é usado por parte da população. Mas lutamos por um governo que valorize o patrimônio cultural da cidade, que atue em benefício do conjunto da população, independente de crenças religiosas.
O
que se espera agora é que o atual prefeito rompa com a política de privilégios
religiosos, e como prova disso reestabeleça a Praça da Bíblia como Praça Chico
Mendes e devolva a pista de Skate aos jovens, assim como a função social do
espaço.
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Pedro He-man, 22 anos, estudante do curso de história da UERJ-FFP. Militante do PSOL e do coletivo de juventude "Juntos!" em São Gonçalo
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