por Prof. Josemar
A cidade de São Gonçalo, em 15 de novembro de 1908, foi o ponto de anunciação da Umbanda na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, localizada na Rua Floriano Peixoto, no bairro de Neves. A incorporação do Caboclo das Setes Encruzilhadas foi mediunizada por Zélio de Moraes.
A Umbanda é uma religião brasileira, baseada no sincretismo social que envolve as religiões africanas, as crenças indígenas e o catolicismo baseado na tradição europeia. Mesmo com as perseguições no Estado Novo, baseadas no racismo religioso, as Casas de Umbanda se disseminaram pelo tecido urbano nacional, onde registram-se centenas de casas nos anos 1950. Hoje também é internacional, com diversos matizes e ramificações.
O refluxo iniciou-se na década de 1980, em sintonia com o crescimento das seitas fundamentalistas neopentecostais. Essas se desenvolveram na esteira da crise metropolitana das últimas décadas, ocupando o espaço dos terreiros nas periferias. Aprofunda-se o pensamento “demonizante” da Umbanda e das casas de Candomblé.
A história é pouco difundida, logo pouco reivindicada. Eu mesmo, quando criança, estudei no Colégio Santos Dias, que se localiza em frente à casa onde a Umbanda foi fundada. Nunca me falaram na escola sobre a importância histórica do imóvel que estava a 10 metros.
Apresentar a história é também fortalecer a memória de resistência popular e cultural.
BERÇO DA UMBANDA
No dia 2 de outubro de 2021 foi inaugurado o MuseUmbanda, uma associação da sociedade civil. A iniciativa visa à construção de um museu, que tem como objetivo o resgate de memória da Umbanda e a luta contra a intolerância religiosa.
Leu-se o estatuto. Expôs a história da religião que teve sua anunciação em São Gonçalo. Discutiu-se sobre os objetivos do MuseUmbanda. Reafirmou-se os pressupostos da luta pelo Estado laico. Apresentou-se o projeto de construção do Museu com uma estrutura física, cinco exposições permanentes. Por último, elegeu-se a diretoria fundacional, a ser presidida por Pai Fernando de D’Oxum.
A iniciativa contou com a participação de pesquisadores, parlamentares, ativistas do Movimento Negro e líderes de religiões de matrizes africanas. Um evento importante foi realizado na Tenda Espírita São Lázaro, no bairro de Santa Catarina, na cidade de São Gonçalo.
A LUTA CONTRA A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA: É UMA NECESSIDADE
O avanço da intolerância religiosa é produto de uma crise social. Tem no seu pilar central o conservadorismo social burguês racista, que se instrumentaliza e é potencializado por representantes públicos no cenário político e social.
A demonização, a radicalização irracional, os ataques aos terreiros de religiões de matrizes africanas, discursos de ódio e elitismo social-racial são as partes visíveis e violentas deste projeto de poder que colabora efetivamente para o projeto de extrema direita instalado no Brasil.
O MuseUmbanda tem como cláusula pétrea a luta contra a intolerância religiosa e a defesa do Estado laico. Está no seu horizonte a construção de trabalho de conscientização cotidiana. A luta contra o preconceito é parte intrínseca da sua existência enquanto Museu.
Lutar contra a intolerância religiosa deve fazer da nossa estratégia rumo à construção de uma sociedade sem explorados, sem exploradores, sem oprimidos e sem opressores. Livre de preconceitos e de autoritarismos.
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