Prof. Josemar Carvalho &
Marcio Ornelas
O ano de 2013 foi um marco na história do país.
Milhões de pessoas tomaram as ruas para protestar por melhores condições
de vida. Aqui em São Gonçalo não foi diferente, tivemos um recorde na participação
popular durante e impusemos uma importante derrota ao governo.
Neste inicio de 2014, já estamos sentindo os
“sintomas positivos” que a disposição para lutar aumentou. Contrariando assim, a
máxima de que “o ano só começa depois do carnaval”.
Neste breve texto, analisaremos as consequências das
jornadas de junho, mobilizações que sacudiram o país em meados do ano passado;
e as perspectivas de novas mobilizações para o ano de 2014.
Tomaremos como ponto de partida para a reflexão: as
mobilizações que acontecem no país e suas influências sobre a cidade de São
Gonçalo.
Rio de Janeiro 1 milhão de pessoas |
As mobilizações que aconteceram no país expuseram o
modelo de dominação imposto pela burguesia em aliança com setores da velha
politica.
As jornadas de junho denunciaram as contradições
sociais e toda a precariedade da vida da classe trabalhadora. O Brasil que faz
investimentos milionários para receber os megaeventos, é mesmo em que a
população agoniza na fila do SUS, que não tem acesso à educação de qualidade e
sofre diariamente com o caos do transporte público.
A população se reencontrou com a mobilização e
consequentemente com a sua força. Aprendeu que é possível lutar e vencer, sem
precisar que uma pequena casta política lhe diga quais são suas necessidades.
As passagens (o estopim para a onda de manifestações) foram reduzidas em todo o
país. Obtivemos vitórias reais, obviamente, ainda muito aquém das profundas
transformações de que nossa sociedade precisa. Mas as lições de 2013 só podem
apontar para uma conclusão: a população organizada tem totais condições de
promover tais transformações.
Em
São Gonçalo também avançamos em 2013...
10 mil pessoas em São Gonçalo |
Nosso município não foi diferente do restante do
país. As jornadas de junho de 2013 também aumentaram a consciência coletiva e
as mobilizações espontâneas na nossa cidade.
Em junho de 2013 foram realizadas três
manifestações, sendo que uma delas contou com a presença de mais de 10 mil
gonçalenses (a maioria de jovens estudantes), o que foi a maior mobilização da
história de São Gonçalo.
As fortes mobilizações em nossa cidade mostraram que
a população não aceita mais a resignação como opção. Assim, construíram um belo
movimento do qual nos lembraremos sempre. A principal pauta, como não poderia
deixar de ser, exigia a redução da tarifa de ônibus para R$1,50, mas debatia
também outras inúmeras questões deficitárias da cidade.
A atuação critica da população nas redes sociais
aumentou. O que revela a disposição para lutar coletivamente. A construção do movimento
“São Gonçalo na Luta”, durante as jornadas de junho, foi um ponto central da
organização da juventude e dos movimentos sociais da cidade. Cabe destacar que
este movimento como expressão viva e real das lutas forçou a convocação no dia
28 de setembro uma audiência pública de transportes em nossa cidade.
As
lutas em 2014 estão só começando
São tantos os problemas que acometem o trabalhador,
que fazíamos um prognóstico de que o ano de 2014 não seria diferente nesse
sentido e voltaríamos a ver as pessoas ocupando as ruas.
Dizíamos “2014 será maior”! E esse início de ano nos
parece bastante promissor. Exemplos não nos faltam. Já estão acontecendo novas
manifestações contra o preço do transporte público em todo o país (em São
Gonçalo já tivemos duas). Os “rolezinhos” denunciam o racismo e a contradição
do templo do consumo chamado Shopping Center. A greve dos rodoviários de Porto
Alegre, com forte adesão, mostra um enfrentamento ferrenho entre classe
trabalhadora organizada e os setores da patronal. As mobilizações dos operários
do COMPERJ, em Itaboraí, revelam a disposição da classe trabalhadora para a
luta.
A reação da população diante dos desmandos da FIFA e
das denúncias de corrupção, superfaturamento das obras da Copa, culminou
numa forte mobilização que transcorreu durante toda a Copa das Confederações.
Isso nos faz crer, que a Copa do Mundo será um símbolo da revolta popular, pois
suas construções monumentais, escancaram as desigualdades sociais e expõe uma
verdade inconveniente: só um pequeno grupo de empresariados e empreiteiros vão
realmente ganhar com esse evento. A pergunta é pertinente: Afinal, Copa para
quem?
Mas as lutas desse início de ano não chegam a
surpreender, afinal, a política continua sendo tocada sem a participação
popular, os velhos partidos continuam em simbiose com o poder público, servindo
exclusivamente aos interesses de pequenos grupos que se apropriam das
instituições para ganho próprio. Continuam fingindo que não escutam nossas
reivindicações, não há qualquer canal de diálogo.
Os lutadores do Brasil inteiro, que sonham com dias
melhores, têm uma tarefa chave: a de voltar as ruas e apoiar as mobilizações
populares pela melhoria das condições de vida e pelos seus serviços essenciais.
Tarefa esta, que nós aqui em São Gonçalo também temos que fazer.
Perspectiva
de mobilizações em São Gonçalo
Novos atos em 2014 |
Neste ano de 2014, a população gonçalense dá sinais
de luta. A tendência é a intensificação desse processo.
Mobilizações recentes como a do Laranjal por
Segurança Pública; a resistência dos desabrigados da Linha Férrea no Jardim
Catarina; a auto-organização dos inspetores escolares fazendo ato na
Coordenadoria Metropolitana II no Paraíso, são exemplos do que estamos falando.
Isto tudo sem falar das lutas pela redução das passagens em nosso município que
vem ganhando força a cada dia.
As passeatas contra o aumento das passagens em São
Gonçalo já estão acontecendo. Ocorreram duas mobilizações que teve como eixo: a
redução imediata da passagem e o fim do Consórcio São Gonçalo de Transportes.
O número de participantes nos atos contra o aumento
das passagens em São Gonçalo tende a aumentar. Pois como vimos, a disposição
coletiva para a luta está intensa e as novas mobilizações na cidade do Rio de
Janeiro certamente irão “contagiar” São Gonçalo.
O município de São Gonçalo, mesmo pertencendo a
região metropolitana do Rio de Janeiro, com mais de 1 milhão de habitantes, ainda
traz em si práticas do clientelismo e do fisiologismo politico, que vem
gradativamente perdendo espaço para consciência coletiva que amplia com as
mobilizações.
Não queremos parecer pessimistas, ao contrário,
vivemos um momento de grande otimismo, mas não podemos depositar expectativas
de dias melhores em quem historicamente sempre esteve atuando contra a
população. Derrotar esses grupos nas ruas, nas lutas e nas urnas é uma tarefa
que as jornadas de junho de 2013 nos impuseram, e que em 2014, não podemos nos
negar a fazer.
Do nosso ponto de vista, é preciso aumentar os
fóruns de participação coletiva e de debate. Fortalecer as atividades dos
movimentos sociais de esquerda. E intensificar as mobilizações das diversas
categorias profissionais, dos bairros, dos estudantes e demais setores críticos
da sociedade.
2014 será ainda maior!
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