por Wendell Setubal
Em fins dos anos 60, com o endurecimento da ditadura
militar, através do AI5, parte da esquerda resolveu combater o regime pela luta
armada. As células de militantes passavam a se chamar CTA, ou seja, Comando
Tático Armado. Em vez de ser um bom propagandista ou um bom agitador, o
militante ou a militante priorizava aprender a atirar, fabricar bombas etc.
Dialogar com as massas, lutar suas lutas e, a partir daí,
buscar lutas maiores? Isso era coisa de “reformistas”, do Partidão (PCB) e das
organizações “massistas”, como eram chamadas pelos militaristas as organizações
que não aderiam à luta armada, como, além do PCB, o PcdoB, a Ação Popular (AP)
e a Política Operária (PO). Dessas, só o PcdoB sucumbiu ao apelo das armas com
a desastrosa guerrilha do Araguaia.
Tenho 63 anos e ainda posso fazer política, mas quebrar
banco não é para a terceira idade. E aí, vou torcer, como se fosse um Fla X
Flu, assistindo ao confronto entre manifestantes e PM?
No Grito dos Excluídos, a passeata fluía quando os Black
Blocs, os autênticos, todos de preto, invadiram o palanque vazio da parada
militar. Pra quê? Provocação infantiloide, com pronta reação da PM, jogando
bombas que cegaram momentaneamente a mim e ao Jorge, que estávamos na passeata.
Quase meia hora depois, a passeata se recompôs e voltamos a encontrar os Blocs
na Cinelândia, onde se encontraram com os Blocs da Zona Sul, assim vieram
cantando, e acamparam na Câmara dos Vereadores saindo depois para uma noite de
quebra-quebra no bairro de Laranjeiras, onde a esquerda sempre tem bom
resultado eleitoral (perdão pelo palavrão, Blocs que porventura leiam este
texto).
O ato em São Paulo foi massivo, protesto contra os gastos
da Copa do Mundo, mas no final serviu pra PM fascista de Alkmin efetuar mais de
100 prisões. Qual o ganho político da porradaria?
Ontem, no Rio, ao chegar à Central houve desobediência
civil, pulando catraca. Mas qual o sentido de se levar rojão pra atirar na PM,
errando o alvo e atingindo um cinegrafista? O rolezinho que embevece a classe
média de esquerda joga a classe média baixa, que TRABALHA nos shoppings, no
colo da burguesia; agora dá-se chance pro Cabral aparecer com expressão
compungida, dizendo que vai apurar o “bárbaro” ato. Até quando a ESQUERDA
SOCIALISTA vai ficar refém dos grupúsculos de vanguarda autoproclamada? Vêm aí
grandes mobilizações contra os gastos com a Copa e cada vez que houver um
confronto tolo como esses de São Paulo e Rio, mais a mídia, a burguesia e o PT
vão acirrar o nacionalismo barato para conquistar as massas, contrapondo-o ao
vandalismo.
Em nenhum momento defendo que, quando a PM começa o
confronto, não se revide. Também não defendo aquilo que o PcdoB fez no Rio, ano
passado, entregando um Bloc para a polícia. Não se trata disso, a preocupação é
que alguns companheiros, por romantismo revolucionário, enxergam charme nas
ações dos Blocs e acham que é uma questão menor. Não é. Com essa ação
militarizada, hoje um rojão, amanhã... afastam as massas porque elas se recusam
a entrar em uma ação que vai acabar em violência. O metrô de São Paulo e o trem
no Rio mostram que o povo está aprendendo a perder o medo e protesta quando o
serviço emperra. Aí a violência, se ocorrer, é uma contingência. Não pode ser
sempre predeterminada por quem não consulta ninguém e age à revelia das massas,
capitulando à pressão de classe das camadas médias que querem que a Revolução
surja pronta e acabada.
Autodefesa das massas não é isso e para que ocorra é
preciso que a própria massa sobre isso delibere. Não é o que está acontecendo.
Por fim, à luz do que ocorreu no Rio, fiquemos atentos ao
nosso ato do dia 20 caso a temperatura social aumente tanto quanto o calor
deste verão. Perdão pelo texto longo, mas, a meu ver, necessário.
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Wendell Setubal é Vice-presidente do PSOL São Gonçalo
Eu acho que o título apropriado para o artigo seria " Deus e o Black Bloc na terra do sol". Não se pode cair no maniqueísmo de que os radicais violentos representam o grande mal do movimento iniciado em junho de 2013 e acreditar que apenas as ruas esvaziaram por causa deles. Eles tem parcela de culpa, mas o problema é muito maior. Desde de 1992 que o povo não fazia um movimento de massa como esse, porém é normal que diminua independente da ação violenta. Agora, os setores radicalizados são anti-democráticos e se recusam ao diálogo com os outros setores, impedindo assim a organização estratégica nos movimentos de rua. Enfim, a pedra foi lançada e governo está se valendo disso para realizar uma lei anti-terror. Marchamos contra o governo ou contra os black blocs?
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