domingo, 12 de maio de 2013

Pro Dia Nascer Feliz


por Marcio Ornelas

Pro Dia Nascer Feliz é um documentário de 2006, dirigido por João Jardim, que aborda a situação das escolas e da educação brasileira, traçando um recorte social para mostrar as diferentes realidades que podemos encontrar num país com vasta desigualdade. No centro da narrativa estão alunos e professores, discutindo seus sonhos, projetos e perspectivas.

O filme já é um clássico para se debater a educação brasileira, muito utilizado em salas de aula de ensino fundamental e superior. O grande acerto do filme, reside na preocupação de humanizar o debate educacional, afinal, não estamos falando somente da precariedade de prédios, da ausência de materiais adequados, da falta de condições de trabalho. Estamos fundamentalmente, discutindo as consequências de todos esses problemas nas vidas das pessoas que compõem o cotidiano escolar, trajetórias inteiras que são delimitadas por essa relação. Portanto, não é necessário perder minutos eternos enfatizando as diferenças estruturais que existem entre uma escola pública de Duque de Caxias e uma tradicional escola particular de São Paulo. Bastaria dar voz aos indivíduos e todo o abismo existente saltaria a tela.

Quando são apresentadas as diferentes perspectivas dos alunos, é onde o filme realmente consegue chocar. De um lado, vemos alunos calejados por uma realidade de absoluta pobreza e violência, onde por vezes os referenciais são os poderosos traficantes da região. Os planos são simples tal como o cenário impõe: não repetir de ano, ganhar meu próprio dinheiro, não sair da banda ou passar logo pela escola. Não há uma perspectiva mais ampla, as condições não permitem. A tristeza com a qual uma aluna, depois de formada, descreve a sua própria vida, é muito devastadora. A escola não consegue se apresentar como um espaço capaz de romper com a lógica conformista, de apresentar uma saída, de ser combustível para lutar por transformações. Ao contrário disso, todas as decepções e desilusões se consolidam lá. Do outro lado, temos alunos com toda a assistência da escola, dos pais, desfrutando de um ambiente vivo em sonhos. Vivendo a dificuldade de se estudar numa escola muito exigente, num ritmo de estudos quase militar. Os planos de passarem para as melhores universidades do país e de construírem carreiras brilhantes, servem de sustentáculo diante de toda a pressão que sofrem.

O professor, em nenhum momento da projeção, surge como um herói, como um ser que será capaz de remediar a crítica situação do ensino brasileiro. Ao invés disso, ele aparece cansado, desgastado, desacreditado por remar contra a maré por tanto tempo. Como ser humano ele sofre junto com os alunos, enquanto emprega seus últimos esforços, para ainda assim, ver a escola definhar. O professor tem de ser parte da transformação do ensino brasileiro, mas é um fardo pesado demais para a categoria carregar sozinha. A luta em defesa da educação é da sociedade, esse é o grande desafio. O filme ainda tem a sensibilidade de abordar um tema, cada vez mais comum entre professores, que é a necessidade de acompanhamento psicológico. Sintomas que se manifestam na falta de vontade de comparecer ao local de trabalho, no rendimento das aulas e que levam frequentemente a depressão, tudo em decorrência do ambiente estressante que enfrentam todos os dias.

Passados sete anos, o documentário permanece absolutamente atual. Pena não poder relatar qualquer avanço na melhoria do ensino público nesse tempo. Não podemos aceitar um projeto pedagógico que veja o professor e o aluno de escola pública, como um estorvo que deve ser combatido. Temos o direito a uma escola pública de qualidade, a um ensino libertador. Temos o dever de lutar por isso, não é fácil, mas por certo não estamos entregues.

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Marcio Ornelas, 23 anos, professor de geografia. Militante do coletivo Juntos! e secretário de juventude do PSOL São Gonçalo/RJ.

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