A população de São Gonçalo vem lutando para conquistar o
metrô da Linha 3, um projeto que não sai do papel desde os anos 90. Ao
contrário da discussão sobre o vagão rosa reservado para as mulheres nos metrôs
e trens do Rio e de São Paulo, aqui o debate ainda está muito atrasado. O vagão
rosa é um espaço destinado às mulheres, tanto no metrô quanto no trem, nos
horários de pico de movimento: de 6 às 9 da manhã e de 5 às 8 da noite. O
objetivo é coibir a ação de alguns homens que se aproveitam do vagão lotado
para molestar as mulheres.
Já calculou quanto tempo você leva no transporte?
Tempo de transporte e tempo de vida
Nós, mulheres, que somos a maioria no mercado de trabalho,
temos grandes dificuldades no acesso ao transporte de qualidade. As mulheres
que anteriormente ficavam em casa hoje vivem condições precárias de vida devido
a sua jornada tripla de trabalho. Somos nós que levamos nossos filhos para as
escolas; somos nós que levamos nossos parentes para os postos de saúde e
hospitais; somos nós que garantimos a sobrevivência no lar, quando somos chefes de família. Neste sentido, o tempo perdido no transporte
nos sobrecarrega, pois quando chegamos a casa recaem sobre nós as
responsabilidades domésticas, como limpeza da casa, fazer compras, cozinhar,
costurar, passar roupa, o que demanda um tempo de vida que poderia ser mais bem
aproveitado com outras atividades que proporcionam maior bem-estar, como lazer,
cultura, leitura, viagens, curtir a família.
Quanto tempo nós perdemos na avenida Contorno, Ponte
Rio-Niterói, BR-101 e Alameda São Boaventura para chegarmos a nossos lares?
Nós não somos cinderelas
Quantas vezes já ficamos esperando ônibus tarde da noite,
sozinhas, voltando do trabalho ou indo trabalhar?
Quantas vezes já deixamos de
sair de casa à noite, devido à falta de transporte? Com o aumento da
participação das mulheres nos espaços públicos, a necessidade de transporte
frequente, de qualidade e seguro se tornou fundamental.
Mulheres que residem em periferias de São Gonçalo e bairros
de difícil acesso sofrem muito mais a escassez de infraestrutura urbana, tais
como água, saneamento básico, iluminação pública e transporte. Sabemos que
essas mulheres trabalhadoras, em sua maioria, são negras, chefes de família e
têm condições de vida bastante precárias. Correm mais riscos de chegar atrasada
no trabalho, sofrer violência nas ruas, têm maior dificuldade de sair da rotina
“casa-trabalho” para vivenciar outros espaços, portanto são mais vulneráveis na
cidade. Essa opressão se agrava no caso das mulheres lésbicas, bissexuais,
transexuais e travestis com a questão do preconceito.
Diante desse contexto, devemos promover estratégias de luta
coletiva organizadas pelas mulheres trabalhadoras para construir uma pauta de
reivindicações em defesa de um projeto de cidade que lembre que nós existimos;
que queremos passar menos tempo no transporte; que precisamos de um transporte
de massa de qualidade; que não somos cinderelas, somos mulheres trabalhadoras e
exigimos:
· Garantia de transporte público e gratuito. Estatização dos
transportes já!
· Alternativas viáveis de transporte de massa, como o metrô
da linha 3, expansão das barcas no período noturno, ampliação da oferta de
ônibus para toda São Gonçalo.
Queremos transporte público 24 horas!
O transporte é público; meu corpo, não! Contra a violência
às mulheres!
Coletivo de Mulheres do PSOL São Gonçalo
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