quarta-feira, 24 de abril de 2013

O porquê do fora Feliciano

por Marcio Ornelas


Na segunda-feira (22/04), o deputado federal Jean Wyllys do PSOL, deu uma entrevista no Programa do Ratinho. De volta a polêmica com o deputado Marco Feliciano Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.

Devemos encarar que Marco Feliciano na presidência da CDH é uma distorção. Está no cargo por fruto de um amplo acordo entre uma série de partidos, onde se fatiam os cargos e as comissões conforme o peso das bancadas. O modo como são escolhidos esses representantes já suscitaria um belo debate sobre a legitimidade e o funcionamento das nossas instituições democráticas, assim como a política ali praticada poderia ser facilmente colocada em cheque. O fato inegável é que não há por parte do deputado Marco Feliciano qualquer identificação ideológica com essa comissão, afinal, em outras ocasiões ele já explicitou de forma bem contundente o que pensa sobre negros, homossexuais e praticantes de outras religiões. O espaço que em tese, deveria contribuir para o avanço das conquistas dos diversos sujeitos oprimidos da nossa sociedade, está carregada de intolerância. Como fazer dar certo uma comissão que tem como um dos objetivos a defesa intransigente das minorias, quando o seu representante máximo (e diversos outros integrantes) é radicalmente contra elas? Parece-me um caso inegociável.

É verdade que essas mesmas instituições democráticas produziram várias outras distorções. Ver Blairo Maggi como presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado ou ver José Genuíno andando impunimente como deputado, são alguns dos exemplos. Mas enumerar os problemas do Brasil na tentativa de desmerecer a mobilização contra Marco Feliciano, é um argumento simplesmente inaceitável. É muito saudável para a nossa já combalida democracia que haja esse tipo de contestação, que tenha o debate de ideias, que os joguetes políticos não se tornem naturais para a população. Como questionar as pessoas que simplesmente olham para a CDH e não conseguem crer, que do jeito que está, a comissão jamais conseguirá dar uma resposta para as demandas das minorias. Ainda correm o risco de sofrerem ataques ferrenhos, num fórum onde mais do que nunca deveriam ser bem recebidos. O enfrentamento político é totalmente justificável.


Aliás, o debate sempre é saudável, mas é fundamental que ele seja político e de ideias, só assim podemos chegar a algum lugar com as discussões. Jean Wyllys que contribuiu de forma significativa para que hoje, esse seja um dos temas mais discutidos no cenário nacional, é o exemplo de parlamentar que defende de maneira aguda as suas posições, mas sempre respeitosamente, evitando generalizações grosseiras e fazendo as distinções necessárias, como fez na entrevista mencionada. Justifica seus posicionamentos racionalizando o pensamento, e isso não é um mero detalhe, pois a discussão é de cunho social, que tem reflexos no real, na sociedade. O outro lado da disputa sustenta seus argumentos se imbuindo de intolerância e preconceito, apelando para questões subjetivas indiscutíveis, com linhas políticas baseadas em crenças, que nem sempre tem a preocupação de compreender a sociedade como um espaço plural e diverso. E isso é muito perigoso para qualquer pessoa, assumir posições dogmáticas é na verdade se fechar para o diálogo.

E aos que ainda sustentam o discurso de que no Brasil preconceito é um problema banal, não viram os constantes ataques que o deputado do PSOL sofreu na internet por ser homossexual. Uma verdadeira campanha caluniosa que chegava ao absurdo de afirmar que Jean Wyllys era a favor da pedofilia ou que havia chamado os cristãos de idiotas. Ou as insinuações estapafúrdias de que o PSOL pagava militantes para tumultuar as sessões da CDH. Táticas baixas para tentar deslegitimar todo o movimento que se indigna contra o nome de Feliciano.

De maneira nenhuma, trata-se de uma cruzada contra a fé, contra a religião ou Deus. Criticar alguém por ser cristão é algo tão descabido que nem merece maiores comentários, seria repetir uma intolerância burra que tanto tentamos combater. Mas é verdade que o deputado Feliciano encarna um fundamentalismo muito nocivo e tem no discurso religioso a justificativa da sua prática. Esse é um dos motivos para que várias lideranças religiosas tenham se posicionado contra o deputado, afinal, não há religião ou interpretação do evangelho que dê significado para tantos discursos preconceituosos. Portanto, todo o clamor popular vai contra o seu posicionamento extremamente conservador, que não respeita as liberdades individuais e também não aceita que o Estado um dia possa vir a estender os direitos para todas as pessoas, aliás quer fazer uso desse aparelho para acirrar ainda mais as diferenças. Se não combatermos isso, estaremos desviando do caminho para a construção de uma sociedade justa, democrática e igualitária.

Gritar fora Feliciano é um direito legítimo, é ser contra os acordões no parlamento, contra a velha política suja que impede a funcionalidade das instâncias.


Abaixo a entrevista na íntegra:


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Marcio Ornelas, 23 anos, professor de geografia. Militante do coletivo Juntos! e secretário de juventude do PSOL São Gonçalo/RJ.

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