segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A Necessidade do Fora Cabral

por Marcio Ornelas

As jornadas de junho mudaram o Brasil, a onda de mobilizações que tomou conta do país foi espetacular, contagiante e vitoriosa. Mas se enganam os que pensam que a maior expressão da conquista das massas, reside na redução nacional do preço da passagem. O processo de sair de uma pauta específica e fazer uma transição até o questionamento político, é algo infinitamente mais importante. Nesse ponto, o Rio de Janeiro é o local mais avançado, o “Fora Cabral” hoje é o centro dos protestos, e a consigna ganha as ruas cada vez com mais força.

Existe uma máxima na esquerda, que é verdadeira, de que em momentos de intensa mobilização, a consciência da população avança em 1 mês o que não avançaria em 10 anos. E junho não nos deixa mentir. A política virou um assunto recorrente do cotidiano, sendo discutida em bares, padarias, restaurantes ou qualquer outro lugar. E apesar da importância inegável que tem para o trabalhador a redução da tarifa nos transportes, aprendeu-se no processo de lutas, que as mazelas sociais ao qual somos submetidos não é um descuido qualquer, mas algo que está diretamente ligado a uma política que não tem como centro a resolução desses problemas. Isso explica (em parte) a queda de popularidade de todos os governos. A população do Rio de Janeiro conseguiu conquistas objetivas, mas ao olhar para o governador Sérgio Cabral, ela consegue enxergar a raiz dos seus problemas, ainda que a totalidade das injustiças não pertença a um governo, avançar para esse questionamento direto pode contribuir para implicar uma contestação mais ampla e profunda: a de um regime político, por exemplo. E tal como São Paulo foi fundamental para espalhar as jornadas de junho pelo país, dando provas da força que a população tem, o Rio de Janeiro pode apontar um caminho e ser decisivo para espalhar a luta política pelo país. Nesse sentido o “Fora Cabral” não só é uma necessidade, como uma possibilidade real.

Cabral é intransigente e arrogante. Nunca se preocupou em manter canais de diálogo com a população ou com os movimentos sociais. Acreditava piamente na sua onipotência. A sua postura autoritária e as diversas denúncias contra ele, contribuíram para nos últimos 3 anos, transformar o Rio de Janeiro no principal palco das lutas sociais do país. Mas antes de junho o “Fora Cabral” enquanto algo tangível, era inimaginável. Só com a experiência na rua foi possível tal compreensão, mesmo que não estejamos no ápice do processo, um mês de contestação direta ao Sérgio Cabral, colocou o seu governo contra as cordas. O Governador foi obrigado a ceder nas pautas dos movimentos sociais e numa tacada só (em pouquíssimo tempo) salvamos o Júlio Delamare, o Célio de Barros, a escola Friedenreich e provavelmente teremos o cancelamento do consórcio do Maracanã. O projeto das UPPs, carro-chefe da política do governo, é amplamente questionado e o intocável Mariano Beltrame viu sua popularidade despencar. A polícia militar vai trocar de comando. Aos poucos o castelo de cartas vai ruindo e até parece pouco diante da potencialidade do movimento. Mas como já disse: só as ruas podem trazer a compreensão de que é possível avançar mais.

O PSOL tem um papel importante para desempenhar nessa luta, até pela base social grande que possui no estado. Somos o principal partido de oposição no Rio de Janeiro, sempre fomos um contraponto crítico as medidas do governo Cabral. Nossas figuras públicas são referências políticas no estado e possuem atuação destacada. É preciso se convencer da necessidade política de encampar essa luta, até pelo que pode desencadear uma eventual “queda” de Cabral. Temos que estar ao lado dos movimentos sociais e da população que bravamente carrega essa bandeira. Mas é fundamental oferecer uma saída política que surja do desdobramento dessas lutas, que dialogue não a partir das aspirações partidárias ou vanguardistas, mas da demanda do movimento de massas. O PSOL também tem que gritar “Fora Cabral!”

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Marcio Ornelas, 24 anos, professor de geografia. Militante do coletivo Juntos! e secretário de juventude do PSOL São Gonçalo/RJ.

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