sábado, 15 de junho de 2013

Da luta contra o aumento da tarifa nos transportes à transformação da sociedade

por Marcio Ornelas

13/06 /13 Av. Rio Branco
Mal chegamos à metade do mês, mas já podemos dizer com toda a certeza: junho de 2013 entrou para a história. De norte a sul desse país, somam-se dezenas de protestos contra o aumento das passagens. É o belo reencontro do povo com as ruas, com a sua capacidade de transformação e de construir uma sociedade mais justa.

Mas todo esse movimento pelo Brasil inteiro, por causa de 15, 20 ou 25 centavos? Depois de sucessivas semanas tendo dezenas de atos seguidos, fica mais do que evidente que a insatisfação coletiva não se reduz ao preço da passagem. Existe um desgaste amplo com a piora das condições de vida, com a precarização crescente de serviços públicos essenciais (saúde, educação, segurança e transporte), com a corrupção que assola as instituições políticas brasileiras, o escárnio dos governantes com a população, o desperdício contínuo de dinheiro público. Enfim, são muitas as questões que potencializam a insatisfação geral. E não é de hoje que ensaiamos uma volta contundente às ruas, o momento de efervescência política pela qual passa o Rio de Janeiro nesses últimos dois anos, não me deixa mentir. Por aqui vivenciamos nesse período uma forte mobilização em defesa dos bombeiros, causa que arrastou milhares de pessoas para as ruas; movimento Primavera Carioca encabeçado pela candidatura de Marcelo Freixo a prefeitura do Rio de Janeiro, colocou os jovens em contato com a rua em proporções que há muito tempo não víamos; ou ainda as importantes lutas em defesa da Aldeia Maracanã e contra a privatização do Maracanã, são alguns dos exemplos sólidos. E assim foi em outras partes do país.

Só que nesse Junho de 2013 toda a movimentação da população alcançou o seu ápice, a luta contra o aumento das passagens se transformou na gota d’ água em relação aos sucessivos absurdos que suportamos cotidianamente. Ao fundo de toda essa insatisfação uma pergunta inevitável: por que mais uma vez os interesses públicos estão sendo submetidos aos interesses privados? Não há resposta plausível. O movimento se organizou, cresceu rapidamente e a pauta se nacionalizou com uma intensidade poucas vezes vista no Brasil. Logo vieram as primeiras vitórias, Porto Alegre e Goiânia tiveram seus aumentos revogados, graças à atuação implacável da população nas ruas. A redução da tarifa tem o seu peso real, mas simbolicamente é inestimável, provou-se que a vitória não é um sonho juvenil. A entrega absoluta da juventude em especial, foi o combustível necessário para impulsionar uma manifestação com ainda mais força. Só no último ato mais de 15 mil pessoas tomaram as avenidas de São Paulo. No mesmo dia, no Rio de Janeiro tivemos mais de 10 mil pessoas nas ruas. Os atos se multiplicam por outras capitais do país e suas regiões metropolitanas.

Tamanha força assusta mesmo. A grande mídia não poupou esforços para classificar os manifestantes como vândalos e baderneiros, tentando com isso, legitimar a criminosa repressão da polícia militar. A cobertura tão inverossímil causou revolta na população e o tiro saiu pela culatra, quanto mais a mídia mentia maiores ficavam as proporções dos protestos. O jornalismo amador cumpriu um importante papel, graças as novas tecnologias, pipocaram diversos vídeos na internet que comprovavam o abuso da força policial e a natureza pacífica do movimento. Mas não podemos nos enganar, todo esse imenso aparato articulado para reprimir e condenar os manifestantes, não se justifica por um eventual vidro quebrado, muro pichado ou para restabelecer o fluxo do trânsito. O que realmente preocupa é a euforia crescente que toma conta das massas, a crença de que o poder emana do povo e que a rua é o único caminho da vitória, tudo é muito perigoso para uma burguesia tão desacostumada a resistência. Eles veem o que nós também enxergamos, que a luta contra o aumento das passagens, em um pulo, pode se tornar um questionamento mais amplo que coloque em xeque o paraíso dos marajás que é o cenário político brasileiro.

Nós reafirmamos o compromisso com esse movimento e colocamos a necessidade de estendê-lo para as cidades em que ainda não chegou. Em São Gonçalo o caso é ainda mais particular, afinal, o atual prefeito teve como carro chefe de sua campanha a promessa de redução do preço da passagem para R$ 1,50, ao invés disso em seis meses a tarifa aumentou. O prefeito silenciou-se sobre o tema e não há qualquer indicativo de quando essa promessa será cumprida. Tamanho descaso com a população não pode ser tolerado. São Gonçalo tem peso mais do que suficiente para trilhar o caminho que o Brasil inteiro está indo, a mobilização e a luta nas ruas tem de ser a nossa resposta.

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Marcio Ornelas, 23 anos, professor de geografia. Militante do coletivo Juntos! e secretário de juventude do PSOL São Gonçalo/RJ.

Um comentário:


  1. Já que a autoridade não respeita o povo, vamos ver se eles pelo menos respeitam a nossa pátria, não se esqueçam de levar sua bandeira do Brasil, para as manifestações...
    Espalhem esta mensagem:

    Durante as manifestações usem a bandeira brasileira como manto em volta do corpo, pois qualquer ato contra uma pessoa que esteja com a bandeira sobre o corpo é um ato contra a bandeira nacional. Isso é crime conforme o art. 44º do Decreto-lei nº 898, de 29 de setembro de 1969:

    "Art. 44. Destruir ou ultrajar a bandeira, emblemas ou símbolos nacionais, quando expostos em lugar público. Pena: detenção, de 2 a 4 anos."

    "Os policiais provavelmente não irão respeitar isso devido à seu péssimo treinamento e pouco amor à pátria. Serão feitas fotos com policiais atirando contra a bandeira, atirando spray de pimenta e bombas. Mesmo se nesse momento a imprensa não ficar a nosso favor, vai atrair a atenção da imprensa internacional. Não apenas pelo fato do ataque à bandeira, mas também porque o dever de policias, bombeiros e médicos é servir a sua pátria."

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