por Matheus Felipe
Nos últimos dias o assunto ''segurança pública'' foi
discutido nos principais veículos de comunicação, devido a divulgação do vídeo
da operação policial que resultou na morte do traficante “Matemático”. Operação
que foi conduzida de maneira irresponsável. É óbvio que o bandido é cruel, é
violento e massacra a comunidade carente, mas o Estado não pode competir com o
marginal para saber quem tem o maior nível de crueldade.
Alguns podem até dizer: “Ah, lá vem o socialista defender
bandido”. Não se trata disso, posso estar tendo uma visão radical baseada em
Hobbes, mas o Estado está aí para impedir uma catástrofe maior. Ao criticar
execuções públicas, não defendo “bandido”, mas sim o pacto que os membros da
sociedade fizeram entre si para poderem conviver (minimamente) em harmonia. Cabe
ao Estado proteger a população e não ir contra a integridade física da mesma.
Em questão está a função da polícia que é proteger, mas neste
caso foi ela própria que pôs em risco a população, atirando de maneira
desordenada. Por sorte não houveram vítimas de balas perdidas. Além disso, existe
um problema maior que está na responsabilização da ação.
Os agentes estão no "cumprimento do dever",
acreditando ser uma ação legítima, e isso me assusta. Quem será
responsabilizado? Com certeza não será o secretário de segurança e muito menos
o governador.
Esta operação só teve grande visibilidade porque dizia
respeito a prisão do "Matemático". E as operações em que são
"traficantes comuns", não tão midiatizadas? Esta é a ponta do
iceberg. E digo mais, estes policiais que em suas unidades são vistos como
heróis, amanhã podem ser os vilões se acertarem um inocente numa operação como
essa. O Rio de Janeiro carece de uma política de segurança pública eficaz, onde
os policiais sejam valorizados, que se garanta direitos e acima de tudo a
integridade física e a dignidade do cidadão de bem.
Me entristece o fato de pessoas (em sua maioria de classe
média) que desconhecem a realidade do morador da favela, defenderem essas ações
assassinas e justificarem isso com o argumento de que ''guerra é guerra ''. O
discurso da guerra legitima ações como essa, justifica as fileiras de corpos de
jovens, pardos, negros, pobres (a maioria nas comunidades carentes). E os inocentes
que morrem são consequências da “guerra” que vivemos. Não podemos compactuar
com a irresponsabilidade. A classe média sente a violência, mas o que chega
neles não é nem de perto o que os mais pobres são obrigados a enfrentar
cotidianamente.
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Matheus Felipe é estudante de história da UERJ-FFP, militante do PSOL e do coletivo de juventude Juntos!
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