terça-feira, 4 de agosto de 2020

CARTA AO PSOL SÃO GONÇALO – “Colocando os pingos nos is”

Reproduziremos abaixo a carta “Colocando os pingos nos is” escrita pelo Prof. Josemar como um documento de orientação política ao Diretório Municipal do PSOL de São Gonçalo realizado no dia último 31 de julho. O respeitado companheiro disserta sobre as bases politicas, programáticas e conjunturais que se desenvolverão as eleições deste ano. Vários pontos importantes foram defendidos, entre eles, o apoio a Isaac Ricalde (PCdoB) a Prefeitura de São Gonçalo, como parte da construção da sonhada unidade da esquerda; a companheira Ana Cardinal para vice. Também apresentou, em nome da unidade da possibilidade de vir candidato a Vereador pelo partido. Fato que foi amplamente aceito e aprovada no diretório em questão.

Este documento foi bastante difundido nas redes sociais e na sociedade. A sua qualidade foi bem elogiada, bem multiplicidade de aspectos apresentados. O gesto do Prof. Josemar foi uma grande nobreza, pois viabilizou a unidade da esquerda.

Vale a leitura! Reproduzimos abaixo para o registro público e de memória do processo publico que estamos vivendo.

CARTA AO PSOL SÃO GONÇALO
– “Colocando os pingos nos is”

Sempre fomos firmes na luta ...
Hoje tem reunião do Diretório Municipal do PSOL São Gonçalo, a quem endereço esta carta, na qualidade de militante, membro do Diretório Nacional e, principalmente como gonçalense que sou. Tenho algumas reflexões a apresentar ao debate político a ser realizado pelo PSOL sobre os rumos da nossa cidade, bem como a nossa atuação nas eleições. É um compromisso ético e de responsabilidade com o processo em curso que quero dialogar uma tática com todos os amigos, apoiadores, ativistas, militantes dos movimentos sociais, que acreditam e lutam por uma outra São Gonçalo.
Sempre disse que “São Gonçalo precisa de uma revolução”, onde os direitos básicos a saúde, moradia, educação e transporte sejam garantidos. Onde o trabalhador tenha vez e voz com a eleição. Onde a gestão possa ser democratizada e a corrupção seja extirpada. Não há transformação revolucionária, sem ruptura com o método burguês da velha política e dos agentes/atores que se apropriam do bem público.
Foi com essa indignação que comecei a atuar no movimento estudantil secundarista em 1991 aos 15 anos de idade. “De lá para cá”, me tornei um defensor das causas populares e coletivas. Como estudante da UERJ e da UFF lutei contra a privatização da universidade. Como professor junto aos meus colegas participei das lutas em defesa da escola pública e por melhores condições de trabalho. Atuei várias vezes na defesa de um transporte público de qualidade. Ao lado dos trabalhadores do transporte alternativo ganhamos Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) quebrando o monopólio dos empresários de ônibus. Na defesa dos rodoviários na luta contra a dupla função, tivemos a honra de entrar na justiça para defende-los. Também estive ao lado de comunidades por moradia, de Agentes Comunitários de Saúde por sua regulamentação, entre outros guerreiros. Isto tudo só para citar algumas das diversas lutas que participei na cidade. Recentemente, há quase quatro anos especificamente, fruto deste espirito coletivo, venho construindo a Rede Emancipa de Educação Popular, um projeto sério onde desenvolvemos um trabalho de pré-vestibular gratuito junto a jovens da periferia. Acredito nos movimentos sociais, no programa socialista, e tenho firmeza ideológica para enfrentar aqueles que aqui em São Gonçalo, “engordam” os seus bolsos com o dinheiro público. É preciso coragem para enfrentar o Consórcio São Gonçalo de Transportes e desmandos existentes na nossa cidade. Tudo isto também me levou a ajudar fundar o PSOL. Partido que construo nos últimos 16 anos.
Não chegaria até aqui, se não fosse ousado. Se não falasse a verdade doa a quem doer. Se não tivesse nestes anos de luta apresentado um projeto alternativo. Se não tivesse em 2008 me lançado pela primeira vez a Prefeito numa campanha simples e com poucos recursos, mas firme e muito propositiva. É com esse histórico de fundador do PSOL e de um militante obstinado que quer mudar São Gonçalo e o Brasil que vou desenvolver algumas reflexões a serem desenvolvidos por este diretório.
Que ponto estamos ...
Vivemos um momento diferenciando mundial, a pandemia trouxe novos comportamentos e hábitos para vida social brasileira. O país paralisado colocou nas pessoas novas formas de pensar e agir. As ações de Bolsonaro ajudam a esquentar o caldo do ódio, da intolerância e da irracionalidade. Para salvar o Brasil, é preciso derrubar Bolsonaro.
É importante compreender isto. Quem não entende o papel autoritário de Bolsonaro ou não se posiciona frente aos seus desmandos. De três, uma. Ou o apoia. Ou é desinformado no campo político. Ou falando o papo bem reto, é oportunista. Quem é candidato num partido de esquerda e não se posiciona frente a Bolsonaro é mais grave ainda. O PSOL não pode caminhar ao lado de gente assim. São figuras “piratas”, sem bandeiras, não tem firmeza ideológica ou política. Hoje pode estar num partido de esquerda, amanhã num de direita. Troca de partido como troca de camisa. O PSOL tem que estar na linha de frente da luta contra o bolsonarismo e seus representantes. Nosso partido tem acertado em tentar buscar construir um caminho junto aos oprimidos, aos trabalhadores e a juventude. O PSOL São Gonçalo tem um sido um polo dinâmico de luta contra o bolsonarismo na cidade. O apoio da militância psolista ao Fórum de Desenvolvimento Sustentável e Resistência Democrática de São Gonçalo foi um passo importante na unificação dos movimentos sociais na nossa cidade.
A luta racial negra também é outro aspecto importante na conjuntura mundial e brasileira. A morte de George Floyd o que seria um fato aparentemente comum num país racista como é os Estados Unidos, ganhou repercussão e provocou uma onda de protestos. O estrangulamento por 9 minutos, sendo filmado por vários, chocou o mundo. Floyd ecoou ali um “grito por vida” que virou um “grito de guerra” na luta contra o genocídio do povo negro: “não consigo respirar”. O movimento Black Lives Matter (tradução: Vidas negras importam) foram os principais organizadores de uma onda de protesto que espalharam pelo mundo. No Brasil, São Gonçalo foi local onde esta questão esteve bastante visível com assassinato do jovem João Pedro. É preciso denunciar do racismo e o genocídio do povo negro. Ampliar este debate é fundamental.
Não podemos esquecer também o cenário politico especifico da nossa cidade onde temos o Dr. José Luiz Nanci concorrendo ao premio de pior prefeito da história de São Gonçalo. A incompetência, o nepotismo e a falta de projeto político foram a marca do seu governo, como escrevemos num artigo de janeiro de 2018 para o nosso blog. É um governo recheado de medidas contra os trabalhadores. Vide a ultima medida, há uma semana, na qual o Executivo municipal tentou aumentar as alíquotas de 11% para 14% dos servidores municipais. Esse governo é uma vergonha! Infelizmente falta uma oposição mais firme na Câmara de Vereadores.
Precisamos falar a verdade para a população. Devemos afirmar que quem governou com Nanci, sendo Vice-Prefeito, Secretário, apoiador ou Vereador da base, não tem condições de se colocar como renovação, muito menos falar de mudança.
A direita tradicional, a velha politica e o bolsonarismo estão divididos. Devemos olhar a dinâmica deles e como desenvolvem. Devemos construir um polo dinâmico e critico a mesmice e falta de perspectiva. Como um partido de esquerda que somos temos o objetivo de criar um polo dinâmico com independência de classe e com posições firmes de esquerda. Apresentando um programa para a nossa cidade que perpasse as eleições e se construa no dia a dia.
Na próxima parte deste, quero fazer um balanço do porquê a esquerda não atua unificada neste momento também importante na politico da cidade.
“e” & “i” são vogais... Mas são diferentes!
A vitória de Bolsonaro em 2018 foi um retrocesso e abriu um novo período nefasto para sociedade. O governo da extrema direita trouxe a tona sentimentos ruins e irracionais que viviam no submundo da sociedade brasileira.
Desde o inicio do o governo Bolsonaro, o PSOL se colocou na linha de frente da oposição. Com altivez, com ousadia, o pequeno partido não se acovardou frente ao perigo fascista posto no governo central. Nós do PSOL, com todas as dificuldades e diferenças que temos com outros partidos de esquerda, nos esforçamos para a unidade. Sabemos do nosso tamanho e da nossa responsabilidade, bem como respeitamos a importância dos demais.
No pleito de 2018, fui o candidato mais votado da esquerda da cidade, com 19 mil votos. Nós do PSOL lançamos Guilherme Boulos, mesmo com as criticas aos 13 anos de governos petistas, não hesitamos em apoiar Haddad no 2º turno frente ao perigo eminente do governo fascista de Bolsonaro. Responsabilidade e coerência que nos moveu naquele momento. Tivemos um gesto de grandeza, que esperávamos que os outros também tivessem.
Somamos juntos com os estudantes em maio de 2019, estivemos nas mobilizações que impediram o corte de verbas das universidades. Lutamos contra a reforma da previdência que retirou direito do povo pobre e trabalhador. Fomos firmes, não aceitamos vacilação!
Aqui em São Gonçalo, O PSOL São Gonçalo, em agosto do ano passado, apresentou a Nota política “Unir para Avançar” onde fez um chamado a unidade da esquerda contra o bolsonarismo, seja nas ruas, nos movimentos sociais, nas redes sociais e também nas eleições. Infelizmente, só o PSOL e o PCdoB, se colocaram de maneira honesta e aberta para construção de uma perspectiva unificada. Compreendemos que unificados poderíamos chegar ao segundo turno e encarar os candidatos da velha política na cidade. Pensamos grande!
Lamento que tenha tido partido de esquerda, que procurou apoiador de Bolsonaro para ser candidato a Prefeito, impedindo assim a unidade. Terão que responder aos eleitores críticos esse grave desvio político-ideológico, e responderão junto à população como “sócios-menor” do desastroso governo municipal que em breve se encerra.
Desafios do PSOL: o “i” da questão
O PSOL esteve na linha de frente do combate ao Bolsonarismo em São Gonçalo. Ficamos triste com a divisão da esquerda para o pleito a se realizar em novembro. Por outro lado, conseguimos avançar numa solida unidade com o PCdoB. Algo que não podemos desprezar.
Existe um aumento da critica a Bolsonaro. Não podemos ignorar este fato. As eleições deste ano serão nacionalizadas e ganharão características plebiscitárias em relação ao governo central, é preciso unificar as pautas locais com os eixos nacionais. A defesa dos direitos, dos serviços públicos são pontos de partida para um bom debate.
A construção de um programa que atenda as necessidades do povo pobre e trabalhador é fundamental para a construção de uma mudança radical da nossa cidade. Devemos apresentar uma proposta de valorização dos servidores públicos e de regularização dos Agentes Comunitários de Saúde. Precisamos investir nos profissionais das diversas áreas. Valorizar profissionais de educação, garantindo gestão democrática das escolas, condições de trabalho e descongelamento do plano de cargos e salários é um importante ponto de partida. Devemos investir em ciclovias e ruas de caminhadas como parte do bem estar da população. Precisamos rever as linhas de ônibus da cidade que não levam em consideração a expansão urbana da cidade. Creio que seja fundamental a regularização do transporte alternativo para diversificar os modais da mobilidade urbana da cidade. Precisamos aumentar e fazer os equipamentos da saúde e de assistência social funcionarem na nossa cidade que tem altos índices de desigualdades. É necessário ampliar as áreas verdes, garantir os direitos humanos básicos a vida e combater a intolerância religiosa.
Estamos num momento de definições e não podemos falhar. É preciso reafirmar o PSOL como força independente e apostar numa frente política com o PCdoB local e com os movimentos sociais. Não podemos deixar de construir este caminho. Na plenária do último dia 31 de maio já havíamos aprovado a aliança, cabendo apenas a definição do nome.
Sempre coloquei meu nome a serviço do partido para disputas que foram necessárias. Tive a honra de ter sido candidato a prefeito por três vezes, defendendo com firmeza o programa e a política do partido. Como candidato a Deputado Estadual fui primeiro suplente e fiquei a 706 votos de ser eleito. Temos muito o que construir, e não podemos errar. Estamos numa quadra histórica onde acumular forças é fundamental. Aqui em São Gonçalo, existe uma esquerda dispersa e vacilante como já abordamos.
Podemos construir uma bancada de parlamentares socialistas que serão ponta de lança para a luta dos trabalhadores, das comunidades e da juventude.
Posso contribuir sendo o “cabeça de chapa” do processo. Posso contribuir para a construção de uma bancada do PSOL. Para isso creio ser fundamental, o PSOL São Gonçalo abrir mão da possibilidade de encabeçar a frente com meu nome e garantir ao companheiro Isaac Ricalde (PCdoB) seja o nosso candidato a Prefeito, numa construção politica e programática definida nos parâmetros acima. Para isso também acho importante que o PSOL indique a Vice. Creio que a companheira Ana Cardinal, professora e coordenadora do Emancipa possa assumir a bem a tarefa. A companheira tem um importante trabalho de educação popular e vem se destacando conosco no Programa “Diálogos São Gonçalo”, uma live de entrevistas que estamos debatemos a cidade todas as quintas as 18h30 na minha página.
A construção de uma bancada do PSOL neste cenário politico é fundamental. Hoje a Câmara de Vereadores é um espaço “oco” com pouco debate qualificado. É um parlamento submisso ao Executivo e que se vende por migalhas. Ter uma bancada será um suporte para os movimentos sociais em suas lutas. Será importante para levantar a bandeira do pensamento crítico, em tempos nebulosos de obscurantismo como os que estamos vivendo. É preciso nos fortalecer.
É preciso dar esperança a política no Brasil e a São Gonçalo em particular. Chega de ter figuras da velha politica representando a nossa cidade. Somos a 16 cidade mais populosa do Brasil e segunda do Estado. Somos gigantes. Renovar a política aqui é reanimar os sonhos coletivos de uma sociedade justa e igualitária.
Na política como na vida, as vezes para darmos passos adiante é preciso dar um passo atrás. Estamos fortalecendo o partido e apostando no que é melhor para cidade. Seguiremos a nossa construção coletiva que tem como eixo a luta contra o Bolsonarismo; a velha politica e aqueles que governaram com Nanci.
Vamos juntos ... é preciso avançar na luta!
São Gonçalo precisa de uma revolução!
São Gonçalo, 31 de julho de 2020.
Prof. Josemar Carvalho

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