por Marcio Ornelas
Existe uma máxima na
esquerda, que é verdadeira, de que em momentos de intensa mobilização, a
consciência da população avança em 1 mês o que não avançaria em 10 anos. E
junho não nos deixa mentir. A política virou um assunto recorrente do cotidiano,
sendo discutida em bares, padarias, restaurantes ou qualquer outro lugar. E
apesar da importância inegável que tem para o trabalhador a redução da tarifa
nos transportes, aprendeu-se no processo de lutas, que as mazelas sociais ao
qual somos submetidos não é um descuido qualquer, mas algo que está diretamente
ligado a uma política que não tem como centro a resolução desses problemas. Isso
explica (em parte) a queda de popularidade de todos os governos. A população do
Rio de Janeiro conseguiu conquistas objetivas, mas ao olhar para o governador
Sérgio Cabral, ela consegue enxergar a raiz dos seus problemas, ainda que a
totalidade das injustiças não pertença a um governo, avançar para esse
questionamento direto pode contribuir para implicar uma contestação mais ampla e profunda: a
de um regime político, por exemplo. E tal como São Paulo foi fundamental para
espalhar as jornadas de junho pelo país, dando provas da força que a população
tem, o Rio de Janeiro pode apontar um caminho e ser decisivo para espalhar a
luta política pelo país. Nesse sentido o “Fora Cabral” não só é uma
necessidade, como uma possibilidade real.
Cabral é intransigente
e arrogante. Nunca se preocupou em manter canais de diálogo com a população ou
com os movimentos sociais. Acreditava piamente na sua onipotência. A sua
postura autoritária e as diversas denúncias contra ele, contribuíram para nos
últimos 3 anos, transformar o Rio de Janeiro no principal palco das lutas
sociais do país. Mas antes de junho o “Fora Cabral” enquanto algo tangível, era
inimaginável. Só com a experiência na rua foi possível tal compreensão, mesmo
que não estejamos no ápice do processo, um mês de contestação direta ao Sérgio
Cabral, colocou o seu governo contra as cordas. O Governador foi obrigado a
ceder nas pautas dos movimentos sociais e numa tacada só (em pouquíssimo tempo)
salvamos o Júlio Delamare, o Célio de Barros, a escola Friedenreich e provavelmente
teremos o cancelamento do consórcio do Maracanã. O projeto das UPPs,
carro-chefe da política do governo, é amplamente questionado e o intocável
Mariano Beltrame viu sua popularidade despencar. A polícia militar vai trocar
de comando. Aos poucos o castelo de cartas vai ruindo e até parece pouco diante
da potencialidade do movimento. Mas como já disse: só as ruas podem trazer a
compreensão de que é possível avançar mais.
O PSOL tem um papel
importante para desempenhar nessa luta, até pela base social grande que possui
no estado. Somos o principal partido de oposição no Rio de Janeiro, sempre
fomos um contraponto crítico as medidas do governo Cabral. Nossas figuras públicas
são referências políticas no estado e possuem atuação destacada. É preciso se
convencer da necessidade política de encampar essa luta, até pelo que pode
desencadear uma eventual “queda” de Cabral. Temos que estar ao lado dos movimentos
sociais e da população que bravamente carrega essa bandeira. Mas é fundamental
oferecer uma saída política que surja do desdobramento dessas lutas, que
dialogue não a partir das aspirações partidárias ou vanguardistas, mas da demanda do movimento de massas. O PSOL
também tem que gritar “Fora Cabral!”
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Marcio Ornelas, 24 anos, professor de geografia. Militante do coletivo Juntos! e secretário de juventude do PSOL São Gonçalo/RJ.
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