por Marcio Ornelas
Na segunda-feira (22/04), o deputado federal Jean Wyllys do PSOL, deu uma entrevista no Programa do Ratinho. De volta a polêmica com o deputado Marco Feliciano Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.
Devemos encarar que Marco Feliciano na
presidência da CDH é uma distorção. Está no cargo por fruto de um amplo acordo
entre uma série de partidos, onde se fatiam os cargos e as comissões conforme o
peso das bancadas. O modo como são escolhidos esses representantes já
suscitaria um belo debate sobre a legitimidade e o funcionamento das nossas
instituições democráticas, assim como a política ali praticada poderia ser
facilmente colocada em cheque. O fato inegável é que não há por parte do
deputado Marco Feliciano qualquer identificação ideológica com essa comissão,
afinal, em outras ocasiões ele já explicitou de forma bem contundente o que
pensa sobre negros, homossexuais e praticantes de outras religiões. O espaço
que em tese, deveria contribuir para o avanço das conquistas dos diversos
sujeitos oprimidos da nossa sociedade, está carregada de intolerância. Como
fazer dar certo uma comissão que tem como um dos objetivos a defesa
intransigente das minorias, quando o seu representante máximo (e diversos
outros integrantes) é radicalmente contra elas? Parece-me um caso inegociável.
É verdade que essas mesmas instituições
democráticas produziram várias outras distorções. Ver Blairo Maggi como presidente
da Comissão de Meio Ambiente do Senado ou ver José Genuíno andando impunimente
como deputado, são alguns dos exemplos. Mas enumerar os problemas do Brasil na
tentativa de desmerecer a mobilização contra Marco Feliciano, é um argumento simplesmente
inaceitável. É muito saudável para a nossa já combalida democracia que haja
esse tipo de contestação, que tenha o debate de ideias, que os joguetes
políticos não se tornem naturais para a população. Como questionar as pessoas
que simplesmente olham para a CDH e não conseguem crer, que do jeito que está,
a comissão jamais conseguirá dar uma resposta para as demandas das minorias.
Ainda correm o risco de sofrerem ataques ferrenhos, num fórum onde mais do que
nunca deveriam ser bem recebidos. O enfrentamento político é totalmente
justificável.
Aliás, o debate sempre é saudável, mas é fundamental que ele seja político e de ideias, só assim podemos chegar a algum lugar com as discussões. Jean Wyllys que contribuiu de forma significativa para que hoje, esse seja um dos temas mais discutidos no cenário nacional, é o exemplo de parlamentar que defende de maneira aguda as suas posições, mas sempre respeitosamente, evitando generalizações grosseiras e fazendo as distinções necessárias, como fez na entrevista mencionada. Justifica seus posicionamentos racionalizando o pensamento, e isso não é um mero detalhe, pois a discussão é de cunho social, que tem reflexos no real, na sociedade. O outro lado da disputa sustenta seus argumentos se imbuindo de intolerância e preconceito, apelando para questões subjetivas indiscutíveis, com linhas políticas baseadas em crenças, que nem sempre tem a preocupação de compreender a sociedade como um espaço plural e diverso. E isso é muito perigoso para qualquer pessoa, assumir posições dogmáticas é na verdade se fechar para o diálogo.
E aos que ainda sustentam o discurso de
que no Brasil preconceito é um problema banal, não viram os constantes ataques
que o deputado do PSOL sofreu na internet por ser homossexual. Uma verdadeira campanha
caluniosa que chegava ao absurdo de afirmar que Jean Wyllys era a favor da
pedofilia ou que havia chamado os cristãos de idiotas. Ou as insinuações estapafúrdias de que o PSOL pagava militantes para tumultuar as sessões da CDH. Táticas baixas para tentar
deslegitimar todo o movimento que se indigna contra o nome de Feliciano.
De maneira nenhuma, trata-se de uma
cruzada contra a fé, contra a religião ou Deus. Criticar alguém por ser cristão
é algo tão descabido que nem merece maiores comentários, seria repetir uma
intolerância burra que tanto tentamos combater. Mas é verdade que o deputado
Feliciano encarna um fundamentalismo muito nocivo e tem no discurso religioso a
justificativa da sua prática. Esse é um dos motivos para que várias lideranças religiosas
tenham se posicionado contra o deputado, afinal, não há religião ou
interpretação do evangelho que dê significado para tantos discursos
preconceituosos. Portanto, todo o clamor popular vai contra o seu posicionamento
extremamente conservador, que não respeita as liberdades individuais e também
não aceita que o Estado um dia possa vir a estender os direitos para todas as pessoas, aliás
quer fazer uso desse aparelho para acirrar ainda mais as diferenças. Se não
combatermos isso, estaremos desviando do caminho para a construção de uma
sociedade justa, democrática e igualitária.
Gritar fora Feliciano é um direito
legítimo, é ser contra os acordões no parlamento, contra a velha política suja
que impede a funcionalidade das instâncias.
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